quarta-feira, 8 de julho de 2020

Opinião
[texto publicado no Diário de Aveiro no dia 08jan20]


Reclamações de há dez anos!


PLATAFORMAcidades no Diário de Aveiro



Pompílio Souto

Arquiteto; Urban Designer; ex-Docente Universitário



1)
Neste início de década pareceu-me oportuno comparar o que a PLATAFORMAcidades reclamava há dez anos com aquilo que ela, e agora Outros, consideram essencial fazer-se hoje na Cidade e Cidade-região de Aveiro (*1).

A conclusão é de que muito do que reclamávamos continua por fazer, o que é grave sobretudo porque quem devia, só agora o reconhece como indispensável e, portanto, como causa continuada de prejuízo.

2)
Claro que nestes dez anos se fez muita coisa boa mas, nalguns aspetos, atrasámo-nos e temo que a retoma interventiva recente – que é bem-vinda – possa gerar precipitações, erros e omissões que somem problemas àqueles outros que não estamos a resolver.

> Olhando para o que – há dez anos – se "reclamava" da Câmara, fez-se, de facto, a revisão dos seus modelos de funcionamento e governação, mas a verdade é que isso foi avaliado negativamente num Estudo da FFMS (*2).
> As reclamadas visão Prospetiva da Cidade e dimensão Estratégica do Planeamento, associadas a Politicas de Cidade responsivas e participadas, estão por fazer.
> Fixar na Cidade os Jovens e os Quadros e dispor de mais Habitação no Centro aguardam, entregues aos ditames do mercado.
> Assumir os pares Educação e Formação; Cultura e Criatividade; Património e Identidade (do Bairro e da Cidade) e dar-lhes um projeto compreensível sob uma estratégia chapéu que responda às necessidade das pessoas e dos tecidos sociocultural e económico, são ainda miragens.
> Articular a Mobilidade com os Lugares que se (re)criam e as Áreas de Produção e Negócio que (felizmente agora) se requalificam, estabelecendo as redes, os meios, os regimes e as plataformas – espaços públicos – que melhor sirvam o ambiente, as vidas familiares e os interesses das outras partes, nem ainda se compreendem nem se fazem.
> À Saúde ainda falta muito - sobretudo o Bem-estar". Quanto à Água: a passível de ser (ou depois de tratada) passar a ser para consumo humano, ainda não a tratamos como suporte de vida, sendo que a outra, ainda não assumimos como oportunidade de atividade socioeconómica.

3)
O novo Plano Estratégico para a Cultura é bom, mas diz-nos que faltam criadores e o que mais se faz são eventos.
O novo PDM tem aspetos positivos, mas falta-lhe a dimensão estratégica e a natureza reformista (ou disruptiva) que resolvam os estrangulamentos gerados, quer pela partição fundiária e a propriedade privada socialmente onerosas, quer pelo mercado e património especulativos.
O Projeto Educativo Municipal que nos falta estará, de facto, em elaboração? Receio que não.

Claro que é mais fácil escrutinar e comentar a atividade autárquica – que é o que aqui se procura fazer –, mas torna-se cada vez mais necessário e decisivo que Outros – a Universidade, o Porto de Aveiro, as grandes Empresas e o Terceiro Sector, p.e – partilhem connosco os seus objetivos e resultados: – É que todos eles recebem dinheiros públicos e fazem Cidade.

Ora tudo isto implica, obviamente, que nós, Cidadãos, também escrutinemos a nossa postura e desempenho: - Temos de nos interessar mais e melhor pela coisa pública que faz o essencial das nossas vidas.



(*1) Os Outros, são o Presidente da CMA, o Reitor da UA e os vinte responsáveis das entidades estruturantes da vida da Cidade-região, envolvidos no que leva à "Agenda Cidadã 2030" adotada e em aprofundamento | (*2) A Qualidade da Governação Local | Nota: Este trabalho tem por base contributos de 15 Plataformistas, em 30abr2008
Texto da responsabilidade de (*) Pompílio Souto, Coordenador da PLATAFORMAcidades; grupo de reflexão cívica | Veja outros textos desta série no Blogue Plataforma Cidades || Contacte-nos: plataformacidades.op@gmail.com

                                         

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