terça-feira, 18 de março de 2008

Escolas e Parques

mais uma caldeirada pouco esperta

1)
Diz-se que um mal nunca vem só e é bem verdade. Em Aveiro, como se já não bastasse termos escolas que não servem e parques de estacionamento que não se usam, pretende-se, agora, criar mais de umas e de outros, (ainda por cima) contrariando o que o bom senso recomendaria: adoptar, na autarquia, uma gestão eficaz dos recursos.

Tudo isto é, de facto, um pouco estranhado, nomeadamente, porque até há quem considere o Presidente da Câmara "excessivamente ponderado"; porque não se sabem de "excessos" do seu Vice e, porque, quanto aos demais – salvo se do futuro do Beira Mar se tratasse –, por certo não pecariam, deliberadamente, promovendo "caldeiradas pouco espertas, de difícil digestão".

Por supor que assim é e assumindo – como fazia o Padre Américo – que não há "rapazes maus", admito que se trate, apenas, de "desconhecimento, mau aconselhamento ou coisa parecida".
Sendo (ao menos aparentemente) o "caso" grave, prejudicial para o dia-a-dia desta cidade e comprometedor de muitos aspectos do seu futuro, valeria a pena reflectir um pouco sobre ele.

2)
As Escolas que temos são más e não satisfazem as necessidades desta Cidade e Região; a Carta Educativa foi mal feita, não se percebe como promoverá as nossas potencialidades, nem como resolverá as nossas carências colectivas; dela, o que resulta é um (modesto) quadro de obras a realizar, (i) que não se enquadra em nenhuma estratégia educativa para o Concelho, (ii) sendo (mais que) duvidosos os seus contributos para a nuclearização, quer das ofertas formativas, das competências profissionais, cívicas e culturais, quer do modo de povoamento, (iii) assim deixando de servir, bem, os cidadãos e as respectivas comunidades locais (*1).

Os Parques de Estacionamento que temos – e que se destinam, exclusivamente, a ligeiros –, são bons e bem localizados do ponto de vista da respectiva "viabilidade económica", considerando, nomeadamente, o facto de "servirem bem os interesses individuais e imediatos", dos respectivos "públicos-alvo": são centrais, junto que equipamentos importantes e, nalguns casos, apoiando espaços públicos essenciais da cidade.
Mas, o que se passa, é que, antes mesmo de se ponderar sobre o real interesse de todos eles para a Cidade, se constata que... não são utilizados!
Os carros "colonizam, entopem e vandalizam" os (ditos) espaços públicos, prejudicando todos – menos as Policias –, que não têm de se incomodar, resolvendo, o vício que permitiram que aí se instalasse.

3)
A "caldeirada" é pagar com direitos de exploração de novos Parques, a construção de novas Escolas. Ora, supondo que o privado que o vai fazer, nem é parvo, nem filantropo desinteressado, o que resultará é, por certo, q.q. coisa como o que segue:
i. A promoção – directa ou indirecta – do acesso e uso do automóvel, no acesso à Cidade;
ii. O escancaramento dos seus espaços centrais mais atractivos à desenfreada ocupação pelo automóvel";
iii. O crescendo da repressão do vício do estacionamento indevido, apenas e só, a partir da conclusão de um e de outro novo Parque;
iv. A disponibilização de Escolas que não se sabe bem se são aquelas de que precisamos (o que, quem sabe, até pode suscitar a suspensão da respectiva construção);
v. A perda de mais uma oportunidade para fazer qualquer coisa de jeito; ou seja, qualquer coisa com cabeça, tronco e membros.

Esperemos que nada disto assim venha a ser!




(*1), a propósito disto, ver JN de 25JAN07, " A Carta Educativa; Mais uma oportunidade perdida, em Aveiro, outra vez!"

(Crónica publicada no JN Norte, em 05MAR08)