sexta-feira, 2 de maio de 2008

a Muralha e a Reacção

1)
Ao que parece, os proprietários do "Fórum Aveiro" manifestaram interesse em o ampliar. O Deputado Fazenda (do Bloco de Esquerda), pressuroso, clama, q.q. coisa do género: - Nem mais um soldado..., digo, nem mais um tostão p'ró bolso desses capitalistas, já!

Os ditos proprietários capitalistas terão apresentado à Câmara um Pedido de Informação Prévia sobre a viabilidade legal do que pretendiam. Depois de ouvido quem haveria de o ser, a resposta terá sido favorável, mas condicionada.
Para poente (em direcção à Ponte Praça): nada. Aí está a "zona de protecção" à Igreja da Misericórdia (um "Monumento do Sec. XVI"), zona essa (desde há muito), tida como coisa reverencial e intocável, apesar de (comprovadamente) ineficaz e (em muitos casos) inconveniente.
Para Nascente (em direcção à Ponte de Pau), talvez, desde que os referidos "privados" investiguem se por aí há algum resto da "Muralha Quinhentista da Cidade" e, em caso afirmativo, desde que compatibilizem o conteúdo do projecto com a salvaguarda desse património ("colectivo", sublinho eu).

Interventivo (sim senhor); Desempoeirado (talvez); Conhecedor destas matérias (?), o Biólogo Nelson Peralta (do Bloco), rejeita; rejeita tudo. Não quer mais impermeabilização por ali; não quer que haja mais habitação, aqui; não quer q.q. coisa sobre "a malha urbana heterogénea", não sei onde; não quer que, em q.q. lado, aumente o valor dos terrenos que passam de agrícolas a urbanos e revolta-se (será mesmo?). Revolta-se com o facto de o Vice-Presidente da Câmara ter afirmado que "aprovaria tudo quanto tivesse de ser aprovado". E mais, como (quase) sempre – e infelizmente, ainda hoje, assim fazem –, lançam-se suspeitas: primeiro querem saber de quem são os terrenos em causa e depois querem saber se é verdade que o IGESPAR (*1) deu parecer sobre a referida ampliação.
(*1), Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico

Ufano, o dirigente partidário, proclama: - E se hoje estamos a discutir isto é porque o Bloco de Esquerda levantou a questão.
Não é verdade, obviamente: estamos a discutir isto, porque os (ditos) proprietários capitalistas resolveram fazer uma obra ali. Quanto aos demais, o que há é a reacção: a de quem (com outros) deveria ter identificado o património, mobilizado as pessoas para a questão e optimizado o quadro legal da respectiva conservação e, não o tendo feito, frustrado (?), berra agora (algumas) inconveniências (nalguns casos) contra-indicadas.
2)
O Fórum foi decisivo para segurar, no centro, o "Centro da Cidade". Para além disso tornou-o mais atractivo, mais seguro e mais vivido. Nele reinstalou comércio, serviços e habitação de qualidade, coisas boas não apenas a nível local, mas também, regional.

Desde sempre que – do meu ponto de vista – o "calcanhar de Aquiles" do equipamento, é o modo como se articula (ou o articularam) com os "percursos e atravessamentos pedonais" na Corredora e Ponte Praça; geraram-se: desconforto e insegurança.

Infelizmente, o que não foi oportunamente intervencionado para nascente são, ainda hoje, "espaços sobrantes", desqualificados e desqualificadores da relação do Equipamento, quer com a Av.ª Artur Ravara, quer com tudo o que integra o "eixo Fórum, Aveiro Centrum, Hotel Mélia, Centro de Congressos, Pavilhão dos Galitos, (futuro) Parque Urbano, Variante, Parque de Exposições ("e mais além"...).

A Muralha – ou (se calhar) os seus restos, ou (simplesmente) o seu sítio – existindo, suponho que serão, não uma chatice, mas sim uma oportunidade –, para os Proprietários e os Projectistas de uma q.q. ampliação do Equipamento.
3)
Deixem que a obra seja feita e procurem associar-lhe a requalificação dos percursos pedonais a poente; deixem que assim tenhamos uma vista para a "muralha" (ainda que virtual); deixem que – sem roubos – se gere riqueza para que sobre ela incidam impostos garantindo que estes, juntos com muitos outros, sejam suficientes para as necessidades do país, incluindo o ordenado do Deputado Fazenda e as subvenções ao Bloco de Esquerda e demais Partidos com assento Parlamentar.



(Crónica publicada no JN Norte, em 29ABR08)