quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

a "Cidade Judiciária"_ Um Comentário do Arqto. Jorge Vieira Vaz

Caro Pompílio

É sempre com agrado que leio os teus artigos no JN.
Tive a oportunidade de ler o último (22/02/08) sobre a “cidade judiciária”, e pelo qual gostava de te cumprimentar e com o qual concordo na generalidade.
Como é óbvio, a “nomenklatura” não perceberá o alcance do teu registo pois não tem a mínima noção do que “Cidade” ou “fazer cidade”.
Pessoalmente, sempre fui contra a concentração monofuncional (o que me trouxe dissabores) e lembro-me da “guerra” que foi, nos idos de 90, no Porto, negar a saída da ESAP do Largo de S. Domingos, da Ribeira e da Rua do Belomonte, para um “Campus na Maia” - tudo pago pela respectiva Câmara Municipal.
Seja um “campus” ou outra coisa qualquer, a cidade cumpre-se na diversidade, e depois tudo vem atrás.

Não te querendo maçar mais, até porque parece que estamos de acordo no essencial, deixa-me apenas registar uma pequena discordância: do meu ponto de vista, não tenho grande dúvida que um equipamento é sempre um elemento interessante para “gerar cidade”, pelo que o erro não é o “equipamento” em si mas apenas a sua localização no território que, com um pouco de discernimento e reflexão urbanística, não só podia ser colocado noutro local como poderia aí “criar cidade”: uma praça, lojas, cafés, escritórios, habitação... ou não seria assim!?

Há quanto tempo não se projecta uma “Praça” no nosso território?
Pracetas e “coisos” não contam!

Um abraço,

Jorge Vaz

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

a "Cidade Judiciária"


tenham tino e não nos... desertifiquem ainda mais, por favor


1)
Já houve um tempo em que se pensava que era bom que, nas cidades, houvesse uma separação de actividades: habitação, comércio, serviços e indústria, p.e., deveriam localiza-se em zonas próprios e tais zonas deveriam ser separadas umas das outras; chamava-se a isso "zonamento".

Entretanto, desde há muito que se sabe que isso é causa de muitos e enormes problemas.

Ora, apesar de assim ser, o facto é que a Câmara de Aveiro quer agora promover algo dessa natureza na envolvente da Praça Marquês de Pombal, aí viabilizando aquilo a que pomposamente chama: "a Cidade Judiciária".

Se assim vier a ser, meus caros, é muito mau. É mau, porque isso é uma inegável prova de ignorância (*1) e pior ainda, porque é um péssimo serviço prestado à cidade.


2)
A Praça Marquês de Pombal é um dos pouquíssimos espaços públicos deste tipo, que temos nesta cidade. Para além dessa, apenas a Praça da República (mais pequena) é um "espaço público de inter-acção social e estadia". Diga-se, desde já, que – infelizmente -, fruto de desmandos anteriores, uma e outra são "praças" que foram perdendo essa característica, virtualidade e desempenho na cidade.

Na Praça da República e em resultado disso – do "ambiente de vivência familiar urbana" num "espaço central nobre" –, sobra cada vez menos "vivência" e cada vez mais "nobreza", o que não é bom para ninguém, nem mesmo para os "nobres" (que já poucos há, felizmente).

Na Praça Marquês de Pombal – depois de "interditada", "esventrada" e "abstractizada" foi, anos depois, devolvida à cidade como "cobertura de um parque de estacionamento automóvel" (pouco utilizado) –, por lá se mantendo, a poente, a pouca actividade e o (pequeno) poder do Governo Civil e dalgumas outras "repartições".

Ao Tribunal há anos que vão (quase) sempre os mesmos (são poucos, mas nem isso adianta o andamento dos processos: é por causa do "estado da nossa justiça", diz-se (?)).
Do mesmo lado, mais para norte, a Magestic resiste, bem como algumas (pequenas) lojas da Rua Direita que por aí passa (cada vez menos, uma vez que lhe falta, cada vez mais, uma qualquer razão de ser, a nascente).
Entretanto, a Farmácia Moderna floresce – mas apenas de dia –, enquanto a Casa de Santa Zita definha: – Faltam-lhe as miúdas giras, Pá!" diz peremptório o Tó Seco.

Do lado nascente, os Correios, mesmo renovados deixaram de ser... os "centrais".
Mais adiante, o Quartel dos Bombeiros, o Convento, a Igreja e o "Buraco" e é neste – no "vazio" entre a Igreja e a Casa (hoje) da SimRia – que se pretende construir mais um Tribunal, por aí ficando a tal "Cidade Judiciária".


3)
Já alguém atentou no "deserto nocturno" que isto é na Cidade; já alguém identificou qual a percentagem de "serviços" ai existentes e ponderou sobre os respectivos efeitos na "qualidade da vida urbana", não só nestes espaços públicos, mas também nos da respectiva envolvente.

Por outro lado, digam-me lá, o que é que ganha a Cidade com esta afectação, a esta tipologia de ocupação e de serviços; digam-me, também, o que é que ganha a "Justiça" – quer em termos de eficiência, quer em termos da qualidade do serviço –, pelo facto de ter Tribunais próximos uns dos outros. É que eu acho que já não se carregam processos às costas, sendo que, mesmo há anos, já o Pinto da Costa o não fazia: fazia versos, que, esses sim, podiam ser feitos em q.q. lado, até mesmo numa secretaria judicial.

Tenham tino e não nos... desertifiquem ainda mais, por favor. Eu, por mim, de bom grado oferecia este (novo) Tribunal ao Ruas, ao Menezes e aos Outros que a eles querem "amarrar, nos confins, as gentes do interior (dito) abandonado"...




(*1), coisa que é, creiam, desagradável de reconhecer e de referir: diz respeito a uma entidade necessária à nossa vida colectiva e que, ainda por cima, integra algumas pessoas e colegas dignos de muitos (outros) apreços

(Crónica publicada no JN Norte, em 20FEV08)

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

O "novo Quarteirão" da Avenida







1)
Diz-se que a Câmara sabe de alguém que pretende intervir na totalidade de um quarteirão da Avenida Dr. Lourenço Peixinho, em Aveiro. Para além disso, ao que parece, a Câmara também quer construir parques subterrâneos nesse mesmo espaço. Finalmente, noticia-se o apelo do Presidente da Câmara, no sentido de que os munícipes façam propostas para a "requalificação deste espaço central da cidade", coisa que "eles" – autarquia – vão depois projectar e fazer.

2)
Não há fome que não dê em fartura, nem despropósito populista que – supostamente –, não a sirva (a fartura), sobretudo quando nada se tem realmente para oferecer.

Para além dos que, a propósito de (tudo) isso, assim pensam, outros há – críticos insanáveis, irredutíveis e descrentes – que, ou nada fazem, ou nada querem que se faça, porque tudo acham mal, e pronto!

Há também os outros: os que sofrem dos temores, dos medos e das fobias que assaltam, toldam e tolhem quem não acredita, nem nas virtudes da vida, nem nas virtualidades da mudança.

Alguns destes serão, por certo, os "traumatizados" pelo disparate "público e privado", (mais ou menos) instituído (quase poderíamos afirmar). Outros serão os do: " – No meu tempo é que era...!

Mas, mesmo assim, acho que uns e outros – todos, sem excepção, até mesmo os do IPPAR ("congeladores do alheio") e os seus acólitos (na CP da CMA, na ADERAV e no NAAV) –, devemos "abrir-nos", não para engolir aquela da "participação" que o senhor Presidente da Câmara – sempre solícito e delicado – nos "propõe", mas para outra coisa maior: exigir, para a Avenida Dr. Lourenço Peixinho "desenho com todos".

3)
A Avenida precisa de "requalificação", de "investimento" e de um (novo) "magnete" a norte, coisas que são, de facto, muito diferentes daquelas que a Administração Autárquica e (a respectiva) Gestão Urbanística têm feito, promovido ou suscitado, desde há muito.

Seja porque "embalsamam uns quantos objectos do edificado marginante", assim desvitalizando unidades de tecido e troços de malha, existentes.

Seja porque "licenciam o que haveria de não o ser" – a má qualidade plástica de algumas arquitecturas –, o que retira sentido aos "embalsamamentos" e prejudica a "imagem da cidade", no sítio.

Seja porque, aí "introduzindo tráfego de atravessamento", subvertem a vocação desse espaço, inviabilizando, nomeadamente, a interacção social e a fruição do espaço urbano central mais importante da cidade (alargada).

Seja porque, reconfigurando, pisos e pavimentos e relocalizando passadeiras e atravessamentos, aumentam – em muito –, a insegurança na fruição de um tal espaço (coisa que, obviamente, não vale a posse de uma q.q. "bandeira", mesmo que seja a da "mobilidade").

Seja porque – por uma q.q. "carga d'água", incompreensível – se transformou a avenida numa rotunda, partindo a cidade em duas.

Seja – finalmente – porque, não tendo "ideia do que é uma Avenida", nem tendo uma q.q. "ideia para esta Avenida"; dispensando-se de partilhar com quem quer que fosse, quer o seu deserto de "modelos", quer o "granel" das soluções em carteira, optaram por... fazer.
Agora cabe-nos "sofrer"; até quando?

Queremos, não que nos perguntem o que queremos, mas que nos mostrem e expliquem o que querem, e porquê, e como, e quando e por quanto, sendo que assim, por certo aqui estaremos todos para opinar e, se satisfeitos, aplaudir.

(Crónica publicada no JN Norte, em 06FEV08)