sexta-feira, 21 de setembro de 2007

o Abrigo e o Ofício

Abrigo de Autocarros junto à entrada da Escola João Afonso de Aveiro, em Aveiro

a história d'uma irresponsabilidades; até um dia, espero eu...

1)
Há cerca de um ano – roubando tempo aos meus tempos, dinheiro aos meus dinheiros e paciência à minha falta dela –, fiz um reduzido levantamento das "inseguranças" na escola onde era representante de pais e encarregados de educação.
Eram, tanto quanto me lembro, três os casos que retinha e que considerava exemplares da necessidade de uma ponderação mais vasta e cuidada sobre a matéria.
2)
Assim municiado lá comecei a "saga" de fazer chegar esta "carta a garcia", ou seja: expor à autarquia – neste caso à Câmara de Aveiro – as referidas situações e a dita necessidade.
Não me "passei"...porque já de lá venho, mas o facto é que: (i) para conseguir ser atendido pela "secretária de intermediação" foi um calvário em perdas de tempo e dinheiro; (ii) para explicar o que pretendia, não foi fácil; (iii) para agendar a reunião, a custo, num "buraco", lá se arranjou um "tempinho".
A receber-me estavam, finalmente, não menos do que um Vereador e um Engenheiro Civil. Como sabiam ao que ia, já tinham com eles alguma informação – supostamente preciosa – relativa ao que entretanto tinham feito para resolver os problemas que eu tinha identificado. Já tinham, por exemplo, enviado um "ofício" a quem de direito para que o abrigo de autocarros (que interrompia por completo o passeio) fosse substituído por um outro que não tivesse as obstrutivas protecções laterais, disse – realizado –, o Engenheiro.
O Vereador – baixote, de queixo em riste e olhar firme sobre a praça, onde – à falta de massas inspiradoras – se fixava no José Estêvão, estabelece enfaticamente:
– É isso mesmo; o "ofício" já seguiu: está feito, meu caro.

Sinto-me tolhido: o que é que "está feito"? Será a coisa ou serei eu. A coisa de facto não merecia, outra coisa, claro! Mas eu? Eu porquê? Porque mais não merecia depois de um tal "atrevimento", dir-se-á. E ele, ele que dirá?

– Este é o Lugar da Politica e do Poder; o Local, obviamente, meu caro! Diz, peremptório, agora de costas, em contraluz, confundindo a sua, com a figura verde bronze do "velho" José Estêvão.
Ainda bem que assim é, pensará, no final de contas, somos os paladinos regionais da "causa ferroviária".
Um o primeiro – Deputado da nação – trouxe a Estação dos caminhos-de-ferro para Aveiro. O outro, o segundo (?), não, ele, o Vereador da situação, trouxe... a dúvida e a discussão sobre o TGV e, de raspão (já que tinha a mão na massa), elucubrações várias, profundas e muito únicas sobre a Ota e outros casos da mesma natureza e dimensão: é obra! É-o, mas não de um q.q. modesto "abrigo de autocarros"; era o que faltava!
3)
Assim – e talvez por isso – indiferente a tudo, o Abrigo ainda hoje lá está! Volvido cerca de um ano sobre tão pronta, decidida e decisiva decisão – a de lhe "amandar" com um "ofício" –, resiste e matem-se empurrando os "irrelevantes" transeuntes, para fora do passeio.
É perigoso? Claro que o é: por ali passam INEMs a caminho dos hospitais. É incómodo, obviamente: desde então são já milhares os que descem, torcem e sobem à passagem pelo sítio.
Mas que importa tudo isso? O "ofício" foi mandado e Engenheiro, Vereador e Outros, continuam – melífluos, na bondade dos propósitos; absortos, no narcisismo das posturas e indiferentes, na irrelevância eleitoral do facto.
4)
É pequena a coisa, dir-se-á; mas eu não estou de acordo: pequenas coisas destas em grandes se tornam, por vezes (longe vá o agoiro), e de irresponsabilidades deste tipo se faz a paz do dia-a-dia duns poucos, pagos pelo denodo esforçado de muitos outros; até um dia, espero eu...
(Crónica publicada no JN Norte, em 19SET07)

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

O Interior e as Cidades [2]

Vista de Aveiro, "Centro"


o que falta é "avisar a malta" de que faz falta "uma lei de solos sensata e rigorosa e legislação capaz de pôr ordem nas mais-valias do imobiliário"



1)
Retomando o tema da crónica anterior – centrada no editorial do Público (*1) que alarmava, "estabelecendo": "o Governo desistiu do interior"; agora, a sua "prioridade são as cidades" – sublinhemos, mais uma vez, que o que o Governo fez – e bem – foi "mudar de paradigma analítico e modelo de intervenção."
Disso resultaram muitas e importantes coisas; não todas, nem algumas das que mais interessaria que resultassem; mas, enfim, reconheçamos que – mesmo assim – é decisivo que tenha decido " (i) inverter a correlação que o planeamento físico tradicionalmente estabelece entre "qualificação de território(s)" & "benefício da(s) pessoa(s)", colocando esta(s) em primeiro lugar e "programando" aquele(s) em função das necessidades e aspirações desta(s)".

Referia-se – nessa outra crónica – que o editorial em causa tinha uma segunda parte centrada nas questões das cidades. Vejamos, então, esse outro conteúdo.

2)
(...) "a preocupação que o estado actual das cidades merece ao Governo revela sensatez e atenção": (...) é nas cidades que vive a maioria dos portugueses", (...) é ai que "germinam os dinamismos económicos e os factores da competitividade e da inovação", sendo esse o caso (das redes) de cidades médias (...) "Braga, Aveiro, Leiria ou Viseu", p.e.
"Complicada" – e "constituindo um perigo" – é a "suburbanização" em "Lisboa e principalmente, no Porto". "A actividade predatória da construção civil e a gula das autarquias promovendo o inchaço das periferias fizeram ruir a vitalidade dos centros. Nos anos 90 Lisboa e Porto perderam mais população do que os municípios do interior."
Para resolver este "desafio", diz o editorialista, "já se deram passos importantes, como a revisão dos impostos municipais sobre imóveis ou a criação de sociedades de reabilitação. Mas falta uma lei de solos sensata e rigorosa e legislação capaz de pôr ordem nas mais-valias do imobiliário."

Assim é escrito, e eu subscrevo a quase totalidade disso mesmo; assim não é, no entanto, relativamente ao definir como "predatória" a "actividade da construção civil" e ao assumir como bondosos – na aplicação – os (novos) "impostos municipais sobre imóveis"; igualmente não subscrevo a "omissão de referência às responsabilidades, quer "dos políticos nos ditos anos 90", quer dos técnicos (e de quem os forma e acompanha), nos "desastres" que – repetidamente –, se reclamam sobre e estado das nossas cidades e território.

3)
Ora, a propósito disso: (i) não consta que haja muitos técnicos a queixar-se da não adopção, alteração ou simples desconsideração dos estudos, projectos e planos que fazem, dentro ou fora – ou dentro&fora... – da administração pública; (ii) vêm-se pouquíssimas vez "escolas"a intervir e a responder a este tipo de problemas e as "ordens" – a minha. p.e. – está muito mais preocupada com... olhem, sabem que mais, de facto não sei bem com o quê: - Oh, Roseta, vai p´rá... Portela! (iii) quanto aos políticos dos anos 90... ora, eu agora sei lá bem quem foram! (iv) relativamente aos "impostos municipais sobre imóveis", a sua aplicação tem sido – urbanisticamente falando –, criminosa, induzindo mais e mais ocupação urbana periférica; (vi) e como quase sempre acontece – desde que nos esqueçamos que doutro modo quase todos viveriam ao relento – restam os repetidamente "super maus da fita": os construtores civis e a sua "vocação predatória": é obra... É obra, mas licenciada, meu caros!
Assim, deste jeito descuidado, superficial e redutor se "faz o branqueamento de acções e omissões" nefastas e se "fazem as cabeças dos incautos", para que continuem a perorar pelo que não é tão relevante assim. Haja dó.

(*1), de 20AGO07, de Manuel Carvalho



(Crónica publicada no JN Norte, em 05SET07)

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

O Interior e as Cidades [1]

Minas de Beça; Beça; Boticas
bem vai João Ferrão; libertemos o desenvolvimento das regras do mercado

1)
Da borda d'água à serra e da serra à praia, viagens e estadias, ano após ano, todas suscitam uma mesma convicção: tudo vai – progressivamente –, melhorando, até mesmo quando, sempre piorando, a coisa acaba, ou por se tornar irrelevante, ou por gerar o gesto libertário: p'ró lixo, e já!

Cada vez mais, tenho para mim que, depois de "morta a fome", o pior que temos é mesmo, a "boçalidade endinheirada" e a "ignorância, com meios" que geram a "presunção, assumida, da total estupidez" dos outros.

2)
A propósito. Diz-se num editorial do Público (*1) que "o Governo desistiu do interior" e que, agora, a sua "prioridade são as cidades" (...) onde, só em duas delas (Lisboa e Porto), se concentram 40 por cento dos portugueses. Reconhece-se, entretanto, que "duas décadas de promessas politicas, fundos da UE" e contributos nacionais (é bom lembrar), não impediram que as aldeias continuassem a morrer. Conclui-se que, perante isto, João Ferrão – Secretário de Estado do Ordenamento do Território e das Cidades –, "prefere encarar os limites das políticas públicas de frente": "o Estado já não consegue influenciar um processo de desenvolvimento submetido às regras do mercado que determina a morte da periferia", diz-se. "Mas o reconhecimento disto implica um perigo", avisa, pronta e não ingenuamente, o editorialista: "o abandono de vastas zonas do interior à sua sorte comporta custos que as gerações futuras terão de pagar. A degradação do património construído, o recuo da actividade agrícola, as ameaças à biodiversidade e os perigos de erosão".

3)
O editorial em causa tem uma segunda parte centrada nas questões das cidades e no mesmo jornal publica-se o trabalho "Ordenamento Nova geração de politicas dá prioridade às cidades"; uma e outra coisa são interessantes, mas, por ora, retomemos a primeira parte daquele.

É despropositado (e de modo intencionalmente "alarmista"?) afirmar que "o Governo desistiu do interior" uma vez que, ao invés – tal como o texto implicitamente reconhece –, o que o Governo fez foi mudar de paradigma analítico e modelo de intervenção. O que vem fazendo é, nomeadamente, (i) inverter a correlação que o planeamento físico tradicionalmente estabelece entre "qualificação de território(s)" & "benefício da(s) pessoa(s)", colocando esta(s) em primeiro lugar e "programando" aquele(s) em função das necessidades e aspirações desta(s) e, complementarmente, cuidando da sustentabilidade das soluções, (ii) adoptando, para além disso, a "concentração de meios" e a "redução selectiva de objectivos", como estratégia de potenciação dos efeitos. O resto é (mais ou menos) treta, senão vejamos.

Se o que no interior – em muitos casos –, sobra de povoamento corresponde a algum "modelo", este é "obsoleto, desqualificador e insustentável"; por isso – e por muito que tal nos custe a todos –, o que há que fazer não é "abandona-lo" – como "piamente" sugere o editorialista que não se faça –, é "reocupa-lo" com o que sempre (e quase só) lá haveria de ter estado (a floresta e outros), caso não fosse esta nossa atávica (?) "senha predadora" e "destino anarco-individualista".
A densidade de ocupação territorial seria mais conforme com a de países como o nosso; as infra-estruturas, os equipamentos e, dum modo geral, os investimentos seriam muito mais eficazes, reduzindo os "custos que nós e as gerações passadas" temos vindo a suportar (coisa de que o editorialista se esquece). Para além disso – e contrariamente ao que o mesmo teme – os "custos que as gerações futuras terão de pagar" com "degradações", "recuos", "ameaças" e "perigos" que enumera (ver 2, acima), talvez sejam, de facto, muito menores; digo eu, coisa que vale pelo menos tanto quanto a contrária, ou será que não?

4)
Sejamos sérios e reconheçamos que, felizmente, bem vai João Ferrão e ajudemo-lo, isso sim, a chegar onde temo que não possa: "influenciar um processo de desenvolvimento submetido às regras do mercado", coisa que, essa sim é causa dos maiores males.

(*1), de 20AGO07, de Manuel Carvalho
(Crónica publicada no JN Norte, em 22AGO07)

terça-feira, 31 de julho de 2007

A Nova Rede Escolar

voltamos, mais uma vez, às soluções atamancadas


Pronto, muito provavelmente vamos ter mais um conjunto de soluções atamancadas. Será sina nossa, ou será que, mais uma vez, vamos ter apenas aquilo que merecemos?
Com toda a franqueza, meus caros, eu estou mais nesta.

Refiro-me, desta vez, à questão da reorganização da nossa rede escolar do ensino básico, ao modo como antevejo que tal se fará e aos previsíveis resultados.
É certo que a estruturação de tal rede, a tipologia dos edifícios e espaços em que se apoiava, a respectiva localização e área de influência, bem como, as vocações que tinha(m) e os serviços que prestava(m), foram deixadas para trás nas nossas preocupações de modernização.
Herdamos – "num país desejavelmente rural e pouco letrado" – as escolas do "Programa dos Centenários". Escolas que separavam os meninos das meninas; que tinham uma só linguagem arquitectónica e variantes de imagem conforme o "típico" de cada região; cujos recreios de terra batida dispunham de (algumas) árvores e tinham associados um (pequeno) alpendre que funcionava com sua extensão e antecâmara da(s) sala(s) de aula. Estas eram espaços rectangulares segmentados ao nível do piso por um estrado: o do professor, do quadro e dos retratos dos timoneiros d'então, aqui.
Eram escolas que – independentemente de terem nascido "fruto do acaso e da necessidade" (*1) (ou talvez por isso mesmo) – estavam ao serviço de opções pedagógicas e didácticas que correspondiam a opções políticas claras (independentemente da sua bondade).
Em 1963, os "chatos" da OCDE lançam um "projecto de ajuda aos países mediterrânicos" (nos quais nos incluíamos): pretendia-se "harmonizar a concepção das construções escolares com as concepções de Escola e as orientações no campo da pedagogia (*1). Três anos depois surge entre nós a proposta dum projecto do qual destaco os princípios gerais que seguem:
"(...) (iii) a escola não se restringe à sala de aula e deve, por isso, estar aberta ao exterior; (iv) o ensino não consta só de memorização, mas é, também actividade que os espaços (diversificados) devem permitir; (v) deve ser fomentada a manipulação e criação de objectos (pelo que deve haver, ligada às salas, uma "zona de trabalho suja"); (...) (vii) nem todas as actividades podem ser realizadas no mesmo espaço (...); (viii) as refeições são actividades educativas (...), passando-se o mesmo com as instalações sanitárias (ix); (x) a escola é um edifício aberto, um equipamento social de e para toda a comunidade." (*1)
É longo o extracto, mas vale a pena: é que muito do que então – há 46 anos – se tinha por bom, sem qualquer discussão de fundo e negação de validade, ainda hoje não existe!
E o mesmo – o abandono de um projecto sem uma sua prévia avaliação – voltou a acontecer mais tarde (em fins dos anos 80) com as chamadas Escolas P3. Nisso pesaram a postura do (então) Ministro Veiga Simão, as decisões da Secretária de Estado Marília Raimundo e – sobretudo – o desempenho corporativista e retrógrado do Sindicato Democrático dos Professores e a contestação feroz da imprensa.

Agora, e ao que parece, escolas com menos de vinte alunos e com resultados académicos inferiores à média nacional vão ser encerradas. Meninas e meninos serão diariamente transportados e descarregados em super-escolas, que terão o quê? Mais de vinte alunos e resultados iguais ou melhores que a média nacional.
Salvo o devido respeito, parecem-me pré-requisitos (no mínimo) insuficientes e tenho a certeza que muito pouco discutidos.

Em Aveiro, o caso da Escola da Glória é paradigmático. Apesar de não ser uma "Escola dos Centenários", tem uma arquitectura (também) datada, dum tempo em que a segurança, a relação com o sol e a luz não era (assim tão) relevante; tem alunos a mais e espaços e pessoal a menos; à sua volta a cidade mudou e piorou-lhe o conforto e segurança, quer no acesso, quer na estadia; muitas das edificações do quarteirão onde se insere foram sendo demolidas ou desactivadas. Numa delas – a parte que resta do Convento das Carmelitas – agora vago, quer-se um Tribunal Administrativo; noutro – no ex-Quartel dos Bombeiros – ninguém sabe o que se quer; a sul – no terreiro donde por dois dias saíram os autocarros do Euro para o Estádio – medram ervas, às portas (encerradas) dum recreio e duma escola que (dum modo ou de outro) vai participar no processo de reorganização da nossa rede escolar do ensino básico.
A nova Câmara herdou uma "estratégia" (?), enquanto os Alunos, Pais, Professores e Funcionário herdaram o desconhecimento (quase absoluto) do que está em causa, do que se prevê, porquê, para quê e como.
Com a comunidade escolar (e o envolvimento da outra), com os especialistas (da Universidade de Aveiro, p.e.), faça-se a nível local o que deve ser feito. Afinal vocês – novos Autarcas em Aveiro – prometeram "diálogo": que tal seja feito à volta da Escola e não do Tribunal, meus caros.

(*1), de José Pacheco, in «www.eb1-ponte-n1.rcts.pt»

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Aguada de Baixo, p'ra cima; álbum fotográfico.
( ver texto abaixo)


bandeira
rio
céu
Céu
cruzeiro (1)
cruzeiro (2) cruzeiro (3) cruzeiro (4) O Paraíso
Rua da Escola Rua Nova (1) Rua Nova (2)Rua Nova (3)

Aguada de Baixo, p'ra cima


Cruzeiro ou Rotunda, eis a questão...


esclarecidos e motivados vocês merecem... e nós também!


1)
Em Aguada de Baixo há quem se preocupe com o futuro cuidando, para já, do presente; é bom que assim seja e pena é que assim não seja por todo o lado.
A preocupação não é apenas dos Autarcas – Presidentes da Junta de Freguesia e da Câmara de Águeda –, é, também, dos cidadãos ai residentes e, pasme-se, até daqueles que já dali saíram há muito tempo. Todos estiveram presentes e participaram nas actividades de comemoração do "dia da freguesia", nomeadamente, num debate sobre o futuro da terra: lá se disse algo do que de bom tem o sítio e, sobretudo, o lugar; lá se identificaram constrangimentos, problemas e... maldades; lá se estabeleceram compromissos – publicamente discutidos e assumidos – de iniciativas e acções que serão levadas a cabo por quem de momento detém o poder: Paulo Alves, na Junta e Gil Nadais, na Câmara.

2)
As mágoas, angústias e "dores" locais centram-se (sobretudo) nos efeitos perversos da passagem, pela Freguesia, das várias estadas da "rede viária nacional" e do modo como, quem assim faz (quase) nada acautela – a coesão territorial e a vivência comunitária do lugar – e (quase) tudo põe em risco – a segurança dos cidadãos na fruição do sítio e, também, a viabilidade económica destes espaços e gentes.
E agora, mesmo perante a ameaça dum novo corte – a correcção do traçado do IC2 –, ninguém meteu uma "providência cautelar"; ninguém questionou a "inevitabilidade do interesse nacional"; ninguém pediu um "novo estudo de impacto ambiental"; ninguém pediu mais "estudos" e, sabem que mais, mesmo quando alguém alvitrou uma deslocalização da "coisa mais p'ra sul", ninguém se manifestou aliciado: seria pior para os utentes na (nova) via e (também) mau para os vizinhos de Aguada de Cima, disse-se. Que lição, meus caros!

3)
Mas Aguada de Baixo tem, também outras maleitas e, para além delas, muitas coisas boas.
Tem como se disse autarquias e cidadão civicamente e politicamente empenhados; tem uma boa inserção num espaço empresarialmente dinâmico; tem um centro urbano consolidado e reconhecível; tem jardim-de-infância, escola e... o "Paraíso Social", centro de apoio e assistência social a idosos e unidade de saúde par todos.
Mas todos, não são muitos, e são poucos os jovens: isso nota-se e faz falta a muitas coisas. O espaço das escolas é seco e de difícil acesso, coisa proibitiva, em segurança, para meninos a pé. As envolventes do centro não são, nem qualificadas, nem consolidadas e muito do que foram – campos e vinhas –, hoje é, quase só, mato. No centro há edifícios bonitos (nas ferragens, argamassa e fachadas) submersos num tecido urbano pouco regenerado e com frúnculos, mal "servido" por uma malha urbana pobre, colonizada pela rede viária e seus utentes.

4)
É por aqui – sobretudo pela malha urbana do centro – que importa (re)começar a investir: (i) requalificar o espaço público, criando espaços para os peões e oportunidades para interacção social; (ii) vocacionar a malha urbana do centro para a circulação e estadia pedonal, nela acomodando a circulação viária que não seja de atravessamento; (iii) optimizar e "democratizar" (*1) a acessibilidade aos Equipamentos; valorizar a vinha e o campo, prestigiando a arte, o saber e o trabalho associados à extracção dos respectivos produtos.
E depois – para vergonha de todos nós e vosso bom proveito –, reverter os efeitos perversos dos "atravessamentos pela rede viária nacional", transformando isso numa oportunidade. Todos juntos, esclarecidos e motivados vocês merecem... e nós também: para aprender como se faz.

(*1), tornar acessível a todos: crianças, idosos, deficientes e outros



(Crónica publicada no JN Norte, em 13JUN07)
(ver álbum fotográfico, acima)

quarta-feira, 30 de maio de 2007

DISPARATES


cuidemo-nos para que o céu não nos caia na cabeça


1)
"A suspensão das obras de construção dos 12 Km da Auto-estrada da Costa de Prata na zona de Estarreja, entre o nó de Angeja e o de Estarreja, provocou um sobre-custo de aproximadamente 250 milhões de euros" (*1).
Tal acréscimo equivale ao custo de construção de cerca de 2 000 fogos T3, que albergariam cerca de 7 000 pessoas, por exemplo.
Entretanto, se a tal sobre-custo adicionarmos, quer os acréscimos (públicos e privados) com gastos de combustível e com o menor tempo de vida das viaturas dos utilizadores do velho troço de estrada em serviço, quer os custos das perdas de tempo, riscos e acidentes ocorridos, poderemos perceber bem o quanto a todos nós custaram as irresponsabilidades, as mistificações e os populismos que estiveram na base de tal decisão.
A irresponsabilidade dos Ministros Valente de Oliveira e Manuela Ferreira Leite que decidiram pela dita suspensão; a mistificação montada por quem achava que a auto-estrada haveria de passar, sobre a Reserva Ecológica, num viaduto de Kilóóóómetros, a poente da linha do caminho-de-ferro – coisa feita pelos "Ambientalistas", por exemplo; o populismo do Eng.º José Matos (então Candidato e actual Presidente) da Câmara Municipal de Estarreja que queria levar uma auto-estrada à porta de cada um dos residentes na zona poente do Concelho (e Murtosa) onde os eleitores eram muitos... claro.

2)
O Porto de Aveiro é uma infra-estrutura importante para o País e importantíssima para a região. Nela são movimentadas quantidades enormes de mercadorias, para o que se utilizam (obviamente) barcos e (infelizmente, só) camiões. Estes circulam (durante todo o dia e grande parte da noite) num troço do IP5 contíguo à frente poente da Cidade de Aveiro – a 30 metros do Canal de S. Roque – atravessando, depois, algumas Marinhas de Sal (desactivadas) e o tecido urbano das Gafanhas, em Ílhavo.
Associado à expansão do Porto e à requalificação e valorização da Rede Ferroviária Nacional, "surgiu" (!) a necessidade de até ele levar um ramal que permitisse diminuir o referido trânsito rodoviário – que é muito mais caro, inseguro e poluente. Pensou-se em estabelece-lo na contiguidade do IP5, só que, entretanto, já aí havia sido enterrada uma conduta de Esgotos da SIMRIA, o que implicaria que tal "contiguidade" se fizesse 20 metros mais para poente, sobre as ditas Marinhas desactivadas.
Foi o fim da macacada. Desta feita não foi o tal Eng.º Matos, mas foram os mesmos "Ambientalistas" a sacar da ideia do "Viaduto" milagreiro, não sei se para salvar a "serradela" e a "cama da nidificação das arvéolas", ou se para inviabilizar a obra.
O viaduto vai custar – muito provavelmente (dado que, ao que parece, ao certo ninguém sabe, porque ninguém se importa muito com isso) – cerca de 15 milhões de euros. Tal acréscimo equivale a 40 000 salários mínimos, coisa com a qual parece que pouco nos incomodamos.

3)
O Decreto-Lei 507/99 concessiona a construção e exploração de uma Marina na Barra, impondo limites à construção de edificações no local.
Para o caso fez-se um Projecto. Tal projecto prevê (obviamente) a marina, um abrigo para embarcações de recreio, instalações e equipamentos de apoio, nomeadamente, dois hotéis e (ao que parece) 429 apartamentos e 130 moradias. Imagino que o imobiliário previsto (que poderá ser excessivo) se destine não apenas a qualificar o sítio, a marina e a vida que ai (e na Barra, e na Região) se fará, mas também a gerar os proveitos necessários à diminuição dos encargos públicos com a realização das obras.
Caldo entornado: se há investimento imobiliário, há especulação imobiliária; se há especulação imobiliária, há lucros indevidos (Sim porque essa coisa de especular no imobiliário é socialmente muito menos útil do que especular na bolsa, p.e.) e com isso, com os "lucros indevidos", ninguém neste país se conforma (!), como é bom de ver. Para além disso há, também, a questão dos acessos – a Ponte da Barra e o IP5 – que já não chegam p'rás encomendas. E há, ainda, uns restos de embarcações antiquíssimas que (obviamente, diz-se) vão ser destruídos. Já para não falar dos fluxos hídricos que vão ser alterados – obviamente – para pior.
Mas, apesar de tudo isto, os "gajos" não param; os "gajos" pró-Marina, claro. Que fazer? Interrogam-se, angustiados, os outros.
Eis senão quando, da cartola, sai um belo e experiente coelho. Alda Macedo, a deputada do Bloco de Esquerda (que se diz) responsável (deve ser no Partido) pelas "questões ambientais" (que é isso?) vai apresentar na Assembleia do Povo, desculpem, na Assembleia da República, um Projecto de Lei que acaba com tal "situação ambígua (?)" e "corrige um erro do passado" ("reeducar" está-lhes na massa do sangue...). Tal "expediente" visa impedir o dito "projecto imobiliário" e, obviamente, o respectivo contributo para a diminuição dos custos públicos da construção da Marina.
- Se teimam em quere-la, paguem-na vocês, os daí, e todos outros, Portugueses e Europeus (que não foram ouvidos sobre este assunto, digo eu). Assim a D. Alda e o BE, "cumprem um compromisso assumido nas últimas eleições". T'ão a ver no que dão certos compromissos: o compromisso não foi o de calcular os ditos lucros; o de verificar se eram excessivos e onde é que seriam usados, para fazer o quê; o compromisso não foi estudar os impactos positivos e negativos da operação avaliando de que modo se poderiam minimizar os segundos; o compromisso foi, meus caros, populista, mas (obviamente) inconsequente. A "reacção não passará", diz-se!

Com coisas assim, como também diz alguém que eu conheço: "cuidemo-nos para que o céu não nos caia na cabeça"

(*1), Pedro Cunha Serra, ex-Presidente do IEP, ao Diário Económico, em 8 de Junho de 2005


(Crónica publicada no JN Norte, em 15SET05)

a bolsa, ou a Estética


como Raul Martins, em Aveiro, salva uma e outra

1)
Finalmente – pela mão de Raul Martins –, a Assembleia Municipal e a Câmara de Aveiro vão patrocinar o pedido urgente de revisão da solução técnica em tempos adoptada para a ligação do caminho-de-ferro ao Porto de Aveiro, no troço entre o Olho d' Água e o Canal das Pirâmides.
Daqui se saúda o promotor e todos os demais políticos envolvidos, que agora decidiram promover as soluções de bom-senso para o caso, que há muito se impunham.

Mas afinal do que é que se trata: qual é o caso? O caso – ou a coisa – já aqui – em 15 de Setembro de 2005, sob o título "Disparates" –, se abordava como segue.
(...) "Associado à expansão do Porto (de Aveiro) e à requalificação e valorização da Rede Ferroviária Nacional, "surgiu" (!) a necessidade de até ele levar um ramal que permitisse diminuir o (...) trânsito rodoviário (no IP5) – que é muito caro, inseguro e poluente. Pensou-se em estabelecer (o dito ramal) na contiguidade do IP5, só que, entretanto, já aí tinha sido enterrada uma conduta de Esgotos da SIMRIA, o que implicava que tal "contiguidade" se fizesse 20 metros mais para poente, sobre (...) Marinhas desactivadas.
Foi o fim da macacada. (...) os "Ambientalistas" (...) sacam "...da ideia do "Viaduto Milagreiro", não sei se para salvar a "serradela" e a "cama de nidificação das arvéolas", ou se para inviabilizar a obra. O viaduto vai custar (*1) (...) cerca de 15 milhões de euros. Tal acréscimo equivale a 40 000 salários mínimos nacionais, coisa com a qual parece que pouco nos incomodamos."
[veja a Crónica completa, também, neste Blog]

2)
Imagino que – com tal hipótese de alteração no horizonte –, já alguém deverá estar a preparar uma "manif"... pela defesa dos direitos adquiridos das ditas (serradela e arvéolas) à cama e progressão automática... na vida e no resto, claro.
Só que desta, minhas caras, nem os "ultra-ambientalistas" vos salvam: foram invocadas os "graves impactos visuais" e estéticos da solução anterior, coisa que, tal como todos sobejamente sabemos, mexe muito mais connosco do que o desbaratar d'alguns milhões.

Assim sendo – neste novo quadro, mais belo porque mais edílico e mais etéreo porque mais azul, celeste –, vogaremos, rumo ao futuro – livres e crentes na salvação da estética... que nos alimenta.

3)
A sério – mesmo a sério –, penso que é óptima a proposta e também a oportunidade: a de nos unirmos em torno de alguma coisa que vale a pena. Parabéns.
Mas p.f. que ninguém ponha essa coisa do "custo das coisas" para traz das costas: se não é assim que ninguém faz lá em casa, porque é que há-de ser assim que fazem quando se trata de gerir o dinheiro que (também) é dos outros?
Há mais de vinte anos em Oxford, os Professores que tive – meus caros –, não me deixavam entregar, fosse o projecto que fosse, antes de eu lhes dizer "quanto custaria (fazer e manter) a coisa"; "onde iria buscar o dinheiro para isso" e o que é que os "pagantes e destinatários" pensavam acerca de... tudo".
Talvez me tenham "viciado", é certo, mas o facto é que, vinte anos depois, o "modo como somos" me faz continuar a inveja-los: é pena.


(Crónica publicada no JN Norte, em 30MAI07)

quarta-feira, 23 de maio de 2007

Vouzela


Infelizmente, começam a ser demasiadas as vezes em que os "serviços nacionais especializados" cometem mais erros do que outros com menos responsabilidades, meios e conhecimentos nas matérias em causa. Veja-se, p.e., o que fez o Instituto Português do Património Edificado (IPPAR), na Igreja Matriz de Vouzela.

1)
Vouzela é uma Vila, linda, aconchegada em fraldas d'entre Serras (as do Caramulo e da Gralheira), ali, nas bordas dos Rios (Vouga e Zela) e (agora) também, da Auto-estrada (a A25). Vouzela é hoje um lugar onde apetece não só estar, mas, sobretudo, ficar: "ficar bem, aprendendo entre coisas com história, no meio de gentes com memória".

Memória de como era o sítio; a floresta, os matos e os campos com vinhas, hortas e gado; os caminhos, ruas e largos; as casas: as dos senhores, mas também as dos outros, que era onde viviam quase todos. Memória dos lugares: das pessoas e de onde estas se juntavam p'ra namorar ou se apartavam p'ra jogar. Memória da terra e da pedra; mais desta que abunda, que da outra que muito cansa ir fazendo. Memória, finalmente, de como era a Igreja Matriz e de como o assim ser lhe dava singularidade, grandeza e encanto.

De um modo geral, todos têm sabido cuidar de tais "memórias" e, por isso, chegaram até nós: os caminhos do rio; os solares e as casas senhoriais; a(s) ponte(s); as aldeias, os saberes e os sabores: a vitela e os pastéis, p.e. E chegaram melhorados, limpos, modernos e úteis, emoldurados em verdes viçosos e vivos pelo uso das gentes.
Assim não é, infelizmente, com a Igreja Matriz: o IPPAR adoçou-lhe o adro, reconfigurou-lhe o acesso, secou-lhe a pedra e, com tudo isso... diminuiu-a, meus caros.

2)
A maioria dos processos de requalificação de espaços públicos traduz-se na sua "abstractização" e na do seu uso. O "desenho" – quando existe –, é esquemático, minimalista e óbvio; os materiais são frios; os acabamentos secos e os cromatismos neutros; as soluções, essas são – recorrentemente –, caras e servem mal, muito mal, ou não servem de todo, o seu uso pelas pessoas.

A Igreja Matriz de Vouzela é uma construção dos séculos XII / XIII; romano-gótica – linda, meus caros. É uma construção em granito e cobertura em telha. Nas empenas o pétreo é pouco trabalhado; os vãos são, muito poucos, pouco largos mas altos, rematados por ogivas ainda curtas. Uma empena frontal solta, encimada pelo negativo de dois sinos, estabelece uma (suposta) ambiguidade que suscita a curiosidade e (obviamente) uma observação (mais) atenta. O "adro" era de terra batida e, porque sobrelevado face à via pública, a ele se acedia por degraus de cobertor largo e nobre.

Que lhe fizeram? Foram ao "adro" e pavimentaram-no de granito, tornando "igual" o que – com razão –, era diferente – aquilo onde a Igreja assentava, o acesso ao Monumento e, finalmente, aquilo de que este é feito –; resultado: banalizaram o objecto e a sua isenção na paisagem. Foram aos degraus, encurtaram-lhes o cobertor e aumentaram-lhes o número: "vulgarizaram" um processo: o de aceder ao Monumento. À volta "plantaram" verdes de relva e brancos de calhau – que não sendo dali e adoçando o que era rijo, lhe subverte o sentido. No coroamento do muro, junto à rua, montaram uma protecção metálica que, fazendo "efeito de escada" e deixando livre um acesso por sobre a relva é, nem mais nem menos do que...ridícula.
Ficou "moderno (?)" e muito, muito mais "abstracto": cumpriu-se o desígnio dum Projectista; e o nosso? E o vosso Vouzelenses?



(Crónica publicada no JN Norte, em 16MAI07)

segunda-feira, 7 de maio de 2007

Abril; deste "aperto"..., aos "amanhãs que cantam"



Claro que disparates sempre se disseram e despeitados sempre houve, mas a verdade é que só quem sendo velho de memória curta, ou novo ignorante donde vem, é que pode achar que "isto não está nada bem; está é cada vez pior".


1)
A Escola João Carlos Celestino Gomes, de Ílhavo, celebrou, há dias, – para a comunidade onde se insere, e outras – os "50 anos da Assinatura do Tratado de Roma" (que deu origem ao que hoje é a Comunidade de Europeia) e vai celebrar, em breve, "O Dia da Europa" (que enaltece a bondade da existência de tal Comunidade).
2)
Os Alunos e os Professores dessa Escola, de todas as outras e de (quase) todos os graus de ensino, deslocam-se, estudam, convivem, formam-se e formam conhecimento, não apenas nos diferentes Estados dessa Comunidade, mas por vez até noutros fora dela: são (quase) cidadãos do mundo.
3)
A Associação de Pais e Encarregados de Educação da Escola João Afonso de Aveiro, com o apoio do respectivo Conselho Executivo, pela mão do Departamento de Matemática da Universidade de Aveiro, traz à Escola, aos Pais – e por via destes –, às famílias, estratégias e modos de suscitar o interesse e o gosto pela Matemática, contribuindo para acabar com a nossa iliteracia a tal nível.
E sabem que mais? O essencial de tal programa é, na Universidade, desenvolvido com base em estudos e experiências em tempos iniciadas no Leste e que, agora aqui, contam com o desempenho (algo) liderante de um "Professor Russo" (a quem não se exigiu que declarasse não ser "comunista").
>
4)
Arouca já não "fica onde o judas perdeu as botas"; ou melhor, se calhar continua a ficar por ai, só que soube minimizar os efeitos disso mesmo, transformando-o nalguma "vantagem".
A Serra e a Frecha; as Parideiras e Trilobites; a Arouquesa e a Várzea; a Floresta, as suas Casas e os Viveiros; as Eólicas, os Ventos e as Vistas; os Caminhos, os Povos e os Lugares; a Horticultura, a Pastorícia, a Agricultura e Outras; os Cruzeiros, os Perpeanhos, as Casas, os Solares e o Mosteiro; o Mosteiro, os Doces e o Estar, é – meus caros –, um quase... "bem-estar".
Fartar-lhe-á mais o quê? Desenvolver as ditas "Outras"? Talvez. Precisará, provavelmente, de um pouco mais de "serviços" e da optimização selectiva da "indústria", mas seguramente do que precisa é mesmo de continuar a contar com gente séria, empenhada, esclarecida e livre.
5)
O Museu de Aveiro está em Obras: vai crescer e abrir-se (mais) à comunidade; o de Ílhavo é novo e grande; há, por ai muitos outros e muito bons: o Museu do Papel, na Feira; o Museu da Pedra, em Cantanhede; a Casa Museu Egas Moniz, em Estarreja, p.e.
A Ciência chegou ao cidadão: ao adulto, ao jovem e à criança. Em Aveiro temos a Fábrica de Ciência; na Feira, o Visionário; em Espinho, o Centro Multimeios, p.e.
Bibliotecas já não só as da Gulbenkian que, em "carrinhas citroen", de lugar em lugar, levam – aos poucos que liam –, o muito de que precisavam: conhecimento, saber e... sonho: aquele que eles – os "outros" –,
não sabiam nem sonhavam, que era o que comandava a vida e que, sempre que um homem sonhava, o mundo pulava e avançava como uma bola colorida, entre as mãos de uma criança (*)

Claro que fizemos disparates e, por cento, alguns mais ainda faremos. Estamos num "aperto", e é de temer que, quem quase sempre esteve do lado do progresso, agora possa ser tentado a defender restos e sobras, desperdícios e despropósitos. Oxalá que não: no final de contas, com eles aprendemos que sempre, houve e há "amanhãs que cantam".

(*) a partir do poema de António Gedeão, popularizado pela música e voz do Manuel Freire



(Crónica publicada no JN Norte, em 02MAI07)

sexta-feira, 13 de abril de 2007

a Senhora da Alegria; que tristeza!

"Cruzeiro e Capela da Senhora da Alegria"; Património do Sec. XVI
Hoje um enorme Bolo de Noiva"


da presunção e alheamento resultou...um "enorme bolo de noiva": haja dó


O Cruzeiro da Senhora da Alegria, junto às Barrocas em Aveiro, é uma peça de arquitectura urbana notável. A Capela (ao qual é fronteiro) era modesta, branca e silenciosa. A envolvente pouco perturbava o assim ser e estar deste Conjunto na cidade. O Conjunto era, para uns, um "referente urbano" importante do "Caminho do Mar"; para outros era o bonito que valia a pena pintar.

Nada disto assim é, agora; quase tudo piorou, de facto. Como recorrentemente acontece, da ignorância, presunção, alheamento e comodismo resultou a perda dum Património que, neste caso, remontava ao século XVI. É recuperável? Talvez, mas não vai ser fácil; senão vejamos.

Para o recuperar era preciso que o Património não fosse tido como uma q.q. treta velha, que não nos serve p'ra nada. Era preciso, depois, que os esclarecidos não vissem nos trabalhos associados ao Património, nem uma oportunidade de se exibirem (a si e às suas habilidades), nem coisa que possa ser feita por decreto, fora d'horas, como um q.q. gancho cívico de sapiência dispensável. Era preciso, finalmente, que todos nos preocupássemos com tais coisas e fossemos exigentes em relação aos respectivos resultados.
Assim postas as coisas, julgo que se percebe não só o meu temor, como também a minha convicção de que tal recuperação só com outros actores se poderá fazer: senão vejamos.

Quando os Planos chegaram ao sítio, não só não chegaram por causa do Património aí existente, como também não o tomaram como estruturante do que quer que fosse. Chegaram ao sítio para ligar a nova rede viária da Urbanização (Sá-Barrocas) com a existente, a nordeste. Por isso é que o Conjunto em causa agora nos surge encarrapitado num montículo rodeado de estradas, semáforos e automóveis, muito distante do "caminho", da "cena", do "lugar" – e do seu "espírito"
–, bem como, das pessoas e dos trajectos que elas hoje fazem: a Senhora da Alegria virou o "remanescente" de um processo que haveria de a ter como "determinante".
Os decisores, chocados (apenas?!) com a "agressividade" da base nua do "montículo d'Alegria" (assim criado) convocam... "artistas" para a alindar. Confundidos – ou talvez não – estes têm a sua "oportunidade de glória": retomam o cerâmico e "envergonham" quem o usou sobre o Cruzeiro; berram com a cor e com o desenho; gesticulam com o movimento da composição e... comprazem-se: transformaram o conjunto num "enorme bolo de noiva"!

Rematando tudo isto – outros e mais a Câmara – sob o olhar (por certo) atento da novel Comissão do Património, dão seguimento ao "processo"; coisas do "sistema"...dirão. No interior instalam-se "novos Quartos de Banho"; no exterior um "novel Material cerâmico"... E o certo é que – não sendo isso bom, nem, por certo, projecto d'arquitecto –, recebe "benção Presidencial, na inaugural", por certo sustentado no, "retro beneplácito Comissional"... É o disparate em todo o seu esplendor!


(Crónica publicada no JN Norte, em 21MAR07)

quarta-feira, 11 de abril de 2007

S. Jacinto: a Tróia de Aveiro

1)
Digamos que S. Jacinto é... como que a Tróia de Aveiro. Ou seja: S. Jacinto está para Aveiro, tal como Tróia está para Setúbal.
Sendo certo que nenhumas destas coisas é exactamente isso e assim, o facto é que, tal nos permite melhor ver a importância que S. Jacinto pode ter para Aveiro e para a sua região.
Permite-nos, também, perceber, quão distraídos alguns têm andado a tal propósito e o mal que disso tem advindo e advirá.

S. Jacinto não tem o mar calmo, chão e morno de Tróia, tendo, infelizmente, muito menos horas de sol, temperaturas mais baixas e mais rijas nortadas.
Para além de tudo isso, S. Jacinto não tem, nem umas ruínas romanas ali ao pé, nem – principalmente – Lisboa ali por perto, mas..., o que eu acho que mais falta faz a S. Jacinto, é alguém que não a veja como "o parente pobre e periférico" d'algo muito importante, a quem – por razões de"solidariedade" – se é obrigado a dar uma ajudinha, em nome da... "coesão territorial".

2)
Em S. Jacinto houve, em tempos, Estaleiros navais que geravam emprego, riqueza e bom-nome. Suscitavam, também, a necessidade de "manter aberta a cale" aos barcos que o usavam e "em serviço a estrada" (para norte) que os tornava acessíveis à indispensável circulação viária.
A Base militar – igualmente importante –, empregava (alguns) residentes e (muitos) outros que para lá diariamente se deslocavam, justificando transportes e investimentos vários, não apenas no sítio, mas também no Forte da Barra e na ligação do conjunto a Aveiro.
Entretanto, enquanto que a pesca – no mar e na ria – matava (algumas) fomes e... animava o lugar, a floresta, essa, segurava as areias. Na "escola" ensinava – e bem, muito bem mesmo (*1) – a Professora Alice Andias.
(*1), eu que o diga, que a ela me tive de ater para chegar ao liceu
Lá mais ao longe – p´ra nascente e para sul –, construía-se o Porto de Aveiro: obras pesadas e investimentos vultuosos em melhores e mais risonhos futuros regionais e nacionais.
Com o tempo, o Porto cresce – de importância e de tamanho –, e tudo coloniza à sua volta: S. Jacinto não vai escapar. A Base mirra e os Estaleiros fecham. O valor, o investimento e o interesse já não são, nem do sítio, nem no lugar...;
Que sobra?

3)
Em S. Jacinto o que sobrou, sobrou longe demais para peões e demasiado perto para automobilistas. No centro sobrou a paz, o silêncio e as actividades (mínimas) de que os residentes carecem; sobrou, também, aquela frente de ria, linda (mas algo desdentada). Mais longe, "muito mais longe", sobrou, para além disso, "campismo & mais campismo" e a "floresta & dunas", agora de "reserva" (natural, coisa e tal), bem como a "praia", a cargo do "Pooc", toc, toc, a caminho d'um "ferri" enguiçado... que nunca mais chega: chegará?

Mas, S. Jacinto tem um "plano"; dizem que de "urbanização" – que é um daqueles retratos da realidade sonhada, que alguns fazem, para que a realidade saiba como é que um dia terá de ser –, plano esse que – ignaro –, "peito cheio d'ar, não mexe, não respira..." até que ele, e tudo o mais à sua volta, morra.

Chamem o Belmiro, o Azevedo, conhecem? Aqui é mais fácil: não torres para implodir e há um Estaleiro... por cumprir.

(Crónica publicada no JN Norte, em 04ABR07)