segunda-feira, 26 de novembro de 2012


É uma insanidade o que se está a fazer ao Albói!

Por omissão, ignorância ou interesses mesquinhos, vai-se infernizar a vida dos residentes para dar espaço à diversão noturna e oportunidade ao desmando, bebedeira e outras coisas ainda piores.

1)

Os Bairros antigos não são, apenas, "cenários" - bucólicos ou esquisitos -, nem os residentes "espécimes" - humanas extravagantes -, que se expõem à voragem parola de quem usa o recato e singularidade dos espaços para comportamentos indevidos ou fruições voyeuristas.

Os Bairros são comunidades, lugares e espaços, íntimos, ricos de uma vida com memória e laços com história. Tal como as famílias, gostam e sabem acolher visitas, mas rejeitam intrusos. E intruso é, não apenas quem se intromete, mas também quem lhe cria a oportunidade.

Num Bairro, o comércio e os serviços são os próprios disso – são apoios à residência – e a animação é a própria da vida que ai se faz – tem um carater gregário.

Obviamente que há festa, como em nossas casas, feita para os amigos e outros que presamos –, coisa que acontece nos dias e horas que nos convêm, ou, quanto muito, quando não nos perturbam.

Não perceber isto, é não perceber nada do que é básico na organização e gestão do espaço urbano e da vida das pessoas que o habitam: os cidadãos. Desrespeitar isto é uma violência, um disparte que todos pagaremos caro.

2)

No Albói a coisa – as esplanadas para a diversão noturna; o tráfego de atravessamento; a segmentação do jardim e os vários desrespeitos da lei –, faz-se em nome de um projeto estratégico e estruturante e transversal e incontornavelmente, dito – obviamente – "sustentável": o Parque da Sustentabilidade (PdS).

Para viabilizarem tal coisa – o PdS – a câmara a universidade e mais uns quantos, tiveram de se organizar numa "parceria" – "parceria para a regeneração urbana" -, e à volta deste conceito, num mesmo território, montaram um projeto que é a soma dos projetos do interesse de cada um.

À pala disso todos os envolvidos receberam algum do dinheiro que nós, e outros europeus, já antes tínhamos mandado para Bruxelas, dinheiro esse ao qual tiveram, obviamente, de juntar mais algum, neste caso apenas nosso e para somar ao(s) calote(s) (pelo menos de alguns).

Estava montada a cena: ninguém era – sozinho –, responsável pelo que andava (e anda) a fazer o parceiro, e a câmara, "coitada" – a mais causticada -, dizia-se "coberta" pelos doutos pareceres de uns e pelos silêncios coniventes dos demais, circunstância que a todos lá ia permitindo fazer o seu e passar, incólume, por entre os pingos da reclamação cívica.

Mas não passarão pelo julgamento das pessoas-de-bem, e da história. Quer os daqui que fazem, quer os outros que lhes dão a massa e o mando; quer os que se calam mas consentem, quer os que se demarcam mas se ficam: todos serão convocados.

Tudo isto e todos estes têm nomes e para memória futura, ou para quando o caldo entornar, e alguém vier a julgar os resultados – nalguns casos ilegais –, temo que o que prezo, quem estimo e os amigos envolvidos, não fiquem a salvo.

3)

Não chega que a Universidade – pela voz do Reitor, Prof. Doutor Manuel Assunção –, e que a ADERAV – pela do Eng.º Lauro Marques – se distanciem do processo e se demarquem de alguns resultados (*1). Não chega que outros parceiros (sem que se saiba), tenham desistido ou rejeitem a coisa. Não chega que, na Comissão de Acompanhamento do Projeto, o Prof. Doutor Carlos Borrego denuncie a insustentabilidade geral e específica, quer da iniciativa, quer de muitos das suas intervenções (*2). Não chega que um conjunto muito importante de cidadãos comuns (*3), ou com formação e desempenhos de referência (*4), venha a insurgir-se com o que se passa. É preciso que todos sejamos mais claros e consequentes.

Espera-se que todos esses – e mais os outros, a começar pelos parceiros e quem os apoia (*5) –, venham a público dizer o que se lhes oferece sobre o essencial do PdS e, muito concretamente, sobre o projeto de que aqui hoje se fala: o da instalação de diversão noturna no Albói.

Ao contrário doutros, penso que (pelo menos) alguns o farão, apoiados no bom senso ou na competência e, em qualquer caso, como expressão da verticalidade da respetiva postura cívica.

Veremos!

 
 
(*1),     Ver Diário de Aveiro de 5/11/2012 e 15/11/2012, respetivamente
(*2),     Em reunião da Comissão de Acompanhamento do Projeto realizada em 16/03/2012
(*3),     Amigos da Avenida, Plataforma Cidades e muitos outros individualmente
(*4),     Júlio Pedrosa, Carlos Borrego, Casimiro Pio e outros, nomeadamente, no manifesto de Plataforma Cidades de 28/05/2010.
(*5),   Fernando Marques, da Junta de Freguesia da Glória; Artur Calado, da Inova-Ria; Vítor Torres do Clube de Ténis de Aveiro; Manuel Assunção, da Filarmónica das Beiras e Jorge Silva, da Associação Comercial de Aveiro. Bem como Vitor Correia, da Companhia de Teatro "O Efémero"; Eduardo de Sousa (Atita), dos Amigos do Parque; Paulo Rebocho, da Associação Água Triangular; Fátima Mendes, Florinhas do Vouga; Ordem Terceira de S. Francisco; Paulo Domingues, da QUERCUS Aveiro. E ainda, Nuno Vasconcelos, da IHRU; Gonçalo Couceiro, do IGESPAR. E finalmente, Ana Abrunhosa e – sobretudo -, Pedro Saraiva, da CCDR-C.
            Não esquecendo, obviamente, os académicos e os investigadores (de algum modo ligados ao Projeto), nomeadamente, Artur da Rosa Pires; Liliana Xavier de Sousa; José Claudino Cardoso.
            Mas também, Carlos Marques, do Conservatório de Música de Aveiro; Manuel Assunção, da Universidade de Aveiro e Lauro Marques, da ADERAV, que já se afastaram do projeto, ou se distanciaram de alguns resultados, mas nada disseram deste – o do Albói – que é, obviamente, o que maior impacto sociocultural terá, para os cidadãos, no curto prazo.


Aveiro_20NOV12; Pompílio Souto; Arquiteto

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