Ora viva
Para o bem e para o mal estou de volta
A ausência foi longa; muito do que entretanto escrevi, disse e fiz não foi divulgado neste espaço, coisa que lamento.
Por isso hoje recomeço a estar (também) aqui com coisas novas e outras repescadas e aprofundadas.
Em qualquer caso serão sempre tentativas de partilhar os meus ideais, as minhas convicções, os meus conhecimentos e saberes. Em tudo isso há a bondade, a paciência e tudo o mais que me foi disponibilizado por terceiros ou que eu fui capaz de aprender com eles. Nalguns desses casos estão não apenas instituições entidades ou associações mas também amigos e pessoas que não o são, ou que nem sequer conheço; também está informação recolhida e estudada e, obviamente, obras de arte que nos permitem olhar para dentro e para longe.
Estão - desde o princípio - o meu pai Pompílio e a minha mãe América; a minha família mais chegada e os meus amigos; amigos que (quase sempre) se foram somando, umas vezes estando nós mais próximos, outras vezes nem tanto, conforme o curso das nossas vidas o foi suscitando.
Para quem desconhece - ou conhece menos bem -, alguns aspetos da minha vida aqui deixo um registo (que talvez um dia vá completando e detalhando).
Nasci ("Cagaréu") em Aveiro, em 1943, e fui viver 14 anos no Forte da Barra, fazendo a Escola Primária na da Gafanha da Cambeia - com uma "Regente Escolar" na 4ª Classe - e na de S. Jacinto - com uma Professora (desta vez a sério) - com quem, repetindo a 4ª e fazendo o Exame de acesso entrei no Liceu. Iniciei, então, o Secundário na José Estevão, em Aveiro, sendo que aí tive de interromper os estudos no (antigo) 5º ano. Inventando um atalho (não despropositado, é verdade), fiz, com sucesso, o exame de acesso à Escola Superior de Belas Artes do Porto. Mas não resultou: aí tive, não apenas de interromper, mas de abandonar os estudos: era preciso que começasse a trabalhar.
Vivi 8 anos em Ovar. Trabalhei na Câmara Municipal, onde fui o único técnico permanente, e onde o meu chefe - Eng.º Braga da Cruz - me pôs, felizmente, a fazer o pouco que eu sabia e o muito que eu tive de aprender, nomeadamente, a "valorizar a dedicação ao serviço público".
Trabalhei, também, na Argibetão SA, onde dirigi a construção, a montagem, o arranque e o funcionamento de uma fábrica com 3 turnos e 70 homens. Não foi fácil e esgotou-me. Depois, apesar de recuperado e com bons resultados operacionais, o administrador "Eng.º C.P.", após o 25 de novembro, tentou "meter-me na prateleira": foi feio e mau, mas não resultou.
Paralelamente, e desde que comecei a trabalhar, fazia Topografia, dava aulas de Desenho na Escola Industrial onde, mais tarde, me dispensaram readmitiram e voltaram a dispensar, porque eu não queria coordenar a "Mocidade Portuguesa".
Entretanto fiz Vela e fui dirigente na Secção Náutica da Associação Desportiva Ovarense. No GAV - Grupo Académico Vareiro, joguei Andebol, dirigi a Secção Cultural e constitui a Secção de Cinema para Crianças (ver *1, abaixo). Por esta altura integrei o Júri do Festival Internacional de Cinema para Crianças de Gijón. O Ciclo de "Conversas", que então promovemos trouxe a Ovar o Ary dos Santos, o Francisco Sá Carneiro, o Fernando Tordo e outros cidadãos de referência, bem como… a PIDE, tal como oportunamente nos foram sendo sinalizados, em sala, por Sá Carneiro.
Recomecei a estudar em 1976, no 9º ano da Secundária de Espinho.
Trabalhei e vivi 10 anos em Lisboa, onde, na Argibetão SA, fui Chefe de Compras e de Gestão de Stocks tendo, ao mesmo tempo concluído o Secundário (e o Propedêutico) na Pedro Nunes.
Entrei na Faculdade de Arquitetura da Universidade Técnica de Lisboa. Como Delegado de Turma cooptei o Mário e a Isabel e, com os demais [designadamente, o Filipe, o Charepe, o Nuno, o Paulo, e também a Lurdes] organizámos e nalguns casos financiámos várias Iniciativas. Conferências dos então "proscritos arquitetos de esquerda" - Siza Vieira, Domingos Tavares, Hestnes Ferreira, Luiz Cunha, Justino Morais e Vasco Massapina (p.e). Fizemos Viagens de Estudo, quer a Évora (orientada por Justino Morais) e Beja (orientada por Vasco e Isabel Massapina), quer ao Vêneto (Itália), orientada pelo nosso Prof. Arquiteto Joaquim Braizinha. Acompanhámos, também, a construção do CAM (de Leslie Martin) na FCG. Constituímos, ainda, um "grupo de trabalho" orientado pelo Arq.to Nuno Teotónio Pereira na "investigação tipo-morfológica das Casas de Balcão" na Baixa.
Tudo isto foi, para nós e para Joaquim Braizinha, uma "epopeia" que nos deixou realizados.
Licenciei-me aos 42 anos, como "trabalhador-estudante", com 18 valores e a média de 20 às quatro cadeiras nucleares.
Abri os meus primeiros ateliers (um em Lisboa e outro em Ovar, aos quais juntei, posteriormente, o de Aveiro).
Em 1985 regressei a Aveiro, dirigi o GTL - Gabinete Técnico Local de Estarreja, e fui depois admitido (1987) como Docente do Departamento de Ambiente e Ordenamento da Universidade de Aveiro (UA) na área de Planeamento Urbano.
Amigos e Colegas - referências na minha vida académica, mas não só; faltam muitos e mais anónimos
Com uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian, na Oxford Brooks University, obtive, em 1990, o grau de "Master of Arts in Urban Design", com prática em Amesterdão (envolvendo a Autarquia).
Nos meus ateliers estagiaram muitos dos meus Alunos e trabalharam, não só colegas de Oxford - Richard Broom e Niel Spenser -, mas também o meu Orientador - Prof. em Oxford e Harvard - Roger Simmons.
Na UA, Co-Coordenei o "PIN - ERASMUS" - que fazia a permuta de Docentes e de Alunos de Planeamento das Universidades de Bristol, Nijmegen, Hanôver, Tours e Bolonha. Fui, por essa altura, Co-Autor (com os representantes de Bristol e Nijmegen) do Projeto Europeu de Mestrado Europeu em "Urban Design".
Em 1996 fui pai. Integrei todas a Associações de Pais e Encarregados de Educação das Escolas do meu filho, dirigindo algumas e tendo promovido um vasto conjunto de Iniciativas (ver *2, abaixo).
Em 2000 aposentei-me na UA, continuando a prestar serviços pro bono na área de Urban Design.
Comigo nesta Iniciativa estiveram, a Esmeralda e o Américo Augusto, bem como a Emília e a Leonor, aos quais se foram juntando (de 3 em 3 meses) as Crianças Eleitas pelos seus pares em Sessão Plenária na qual os Candidatos apresentavam (e era discutido) o respetivo Programa de Trabalho.
Havia, portanto: a Direção (de 3 adultos e 6 crianças); a Comissão Pedagógica (de Docentes do Básico e Secundário) e as Secções de Jornalismo (o "Flores do GAV"), de Crítica de Cinema, de Artes Plásticas e de Apoiantes. Todas estas Secções eram constituídas por crianças e integravam um elemento da Direção. A Comissão Pedagógica conhecia e dava parecer (à Direção) sobre as atividades em causa e o modo da sua integração nos "programas curriculares" das Escolas e outras entidades com as quais havia acordos de colaboração: o Cineclube do Porto; a Escola Superior de Belas Artes do Porto - Escultura e Pintura; as Embaixadas com Filmografia relevante: Canadá; Bélgica; França, entre outras; a Direção Regional Educação; a C.O. do Festival de Cinema de Gijón. E a Fundação Calouste Gulbenkian que nos cedeu - já com as atividades em curso - Equipamentos e Material Didático.
Realizavam-se 2 Sessões quinzenais - com uma média de 750 participantes (alguns fazendo trajetos a pé de mais de 6 km). Quinzenalmente editávamos o Jornal "Flores do GAV" com o material produzido internamente e nas Escolas; Sempre que oportuno as "temáticas" dos filmes eram tratadas em Sessões de Escultura e Pintura realizadas com apoio de Professores da ESBAP e anualmente realizávamos uma Festa de Fim de Ano, com a Exposição dos Trabalhos (**), o lançamento de Balões e Animação, no essencial conforme o protocolado com as Escolas Básicas e Secundárias de Ovar.
Tudo isto não era bem-visto por alguns e - sobretudo - por algumas "entidades públicas"( a Câmara Municipal e o Governo Civil (já "Marcelista") - apesar do entusiamo suscitado nos envolvidos e em largos estratos da população de Ovar e das Freguesias mais próximas da Cidade.
Uma das Exposições (de fim de ano (**)) foi Inaugurada pelo Ministro Veiga Simão que, convidado pelas Crianças da Direção, contrariou a indicação dada, de forma rude, pelo Presidente da Câmara e pelo Governador Civil, de que "o Senhor Ministro não tem tempo para uma coisa dessas".
Mas o que sobrou foi muito e foi bom...e pacífico, felizmente. O 25 de Abril já nos estava no caminho e nós nem o sabíamos.
Nesta Iniciativa estiveram comigo a Margarida, o Óscar, a Fátima, a Dulce, a Cristina e a Eugénia, bem com os demais Presidentes das dez APEE das Escolas de Aveiro e Ílhavo. Estiveram também os Prof.s Júlio Pedrosa, Augusto Santos Silva, David Justino, Artur da Rosa Pires, Maria Luís Pinto (*), Maria João Valente Rosa (*), Eduardo A. Castro e o Eng. António Oliveira (que só então conheci...), bem como os Diretores dos ditos dez Agrupamentos Escolares e muitos, muitos Pais e alguns Alunos.
No Espaço da Assembleia Municipal de Aveiro, em Sessão Presidida pelo Prof. Jorge Arroteia, as "convidadas" ((*) ver acima) fizeram a apresentação e moderaram o debate da "evolução demográfica do país" e dos desafios que isso levantava à Escola e à Sociedade.
Em Reuniões Gerais dedicadas, os Pais, Encarregados de Educação, Representantes dos Alunos, Alunos e Professores, identificaram quais as (3) "questões" - oportunidades e problemas" - mais importantes da vida na sua Escola. A organização, em função disso, encontrava o(s) Investigador(es) que melhor poderia(m) apoiar o "debate aberto" que se realizaria nessa Escola, focado nas ditas "questões" e na consensualização de "objetivos de trabalho estratégico" a desenvolver.
Em Reunião Geral de Síntese - realizada na Sala de Atos da UA - fez-se, finalmente, a discussão e fixação das "Conclusões do Seminário" e das "Estratégias da sua Implementação". [2014]