terça-feira, 19 de agosto de 2008

Reclamar...

1)
Reclama-se. Protesta-se. Denuncia-se. Alarmam-se, não as consciências, mas "a metade má das almas": aquela onde moram a superstição e a ignorância, a suspeição e a inveja. Despreza-se o saber e ofende-se o conhecimento. O que é preciso, não é ouvir, nem estudar, nem, muito menos, reflectir, esclarecer e mobilizar; não, o que é preciso é arregimentar-se: arregimentar descontentamentos, frustrações, magotes de milhares, preferencialmente!

E assim se faz – e nós deixamos que assim se faça –, nos mais diferentes domínios e a propósito (ou a despropósito) dos mais diferentes casos e coisas.

Coisas e casos que, obviamente sempre radicam num "interesse e prorrogativa" que, mesmo que só uma vez alcançados, passam a constituir "os direitos" – inalienáveis e perenes – de quem os teve, mesmo que agora inaceitáveis – ou, até, incomportáveis – por todos os demais.

Bem pode o mundo mudar – serem outros, os fracos e as fraquezas; os competentes e as competências; os necessitados e as necessidades –, nada disso interessa: o caso, a coisa, a prorrogativa, o saber, a função, o cargo, a competência e o direito ao exercício de tudo isso estão muralhados por "os direitos" de quem chegou primeiro... Não é assim que é dito, mas é (quase sempre assim) que é reclamado, protestado e denunciado.

Dito isto..."regressemos à terra"; à nossa, p.e: Aveiro.

2)
Sejamos exigentes, a nosso respeito e a respeito da nossa cidade, p.e. Digam-me lá, então, o que é que cada um de vós fez, neste último ano, para a tornar melhor. Eu pelo meu lado, não fiz muito, de facto: para além doutras poucas coisas, o que mais fiz foram, sobretudo, "reclamações"!
Hoje – de baraço ao pescoço –, voluntario-me para discutir e com outros, "desenhar", algumas coisas que me parecem decisivas. As que seguem, por exemplo.
a)
Como estruturar e viabilizar apostas e programas educativos, culturais e formativos com destinatários tão específicos, diversificados e numerosos quanto o são aqueles que temos.
Como integrar, na vida duma cidade conservadora (como esta), alguns excessos e picos de presença da sua população (mais) juvenil (universitário e outra).
Como valorizar a relação do que fazemos e de como nos divertimos, com as especificidades deste sitio e lugar?
b)
Como dar sustentabilidade aos inúmeros equipamentos culturais e desportivos (*1) que temos por aqui (e mais todos os outros que se querem), considerando os públicos de que dispomos?
c)
Como fixar, na cidade, os jovens e os quadros, sem os apartar nem excluir outros? Como atrair, para o centro, (sobretudo) residência? Como viabilizar o comércio de proximidade, sem restringir outras ofertas apetecíveis?
d)
Como salvar (o que resta d)as Frentes de Ria, em Mataduços e Santiago? Que fazer com a Baixa das Barrocas; com a Av.ª Lourenço Peixinho, Ponte Praça e Canal Central; com o Quartel de Infantaria; com o Esteiro de S. Pedro?
e)
Que articulações e parcerias supra-municipais privilegiar? (i) "Aveiro & Ílhavo" ou "Aveiro & Estarreja & Albergaria & Ílhavo & Vagos", p.e. (ii) "Aveiro & Coimbra & Leiria" ou "Aveiro & Porto & Outros mais a norte, p.e.)



(*1), tal é o caso, p.e. de teatros, cinemas, centros culturais e de congressos, bibliotecas, pavilhões, estádios, campos de jogos, auditórios, centros de ciência, museus, galerias, casas (assim e assado, deste e daquele, pertencentes à rede x ou y) e mais os monumentos – locais, regionais e nacionais –, e muitos outros e outras de que agora não me estou a lembrar, peço desculpa...


(Crónica publicada no JN Norte, em 02JUL08)

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