quarta-feira, 30 de maio de 2007

a bolsa, ou a Estética


como Raul Martins, em Aveiro, salva uma e outra

1)
Finalmente – pela mão de Raul Martins –, a Assembleia Municipal e a Câmara de Aveiro vão patrocinar o pedido urgente de revisão da solução técnica em tempos adoptada para a ligação do caminho-de-ferro ao Porto de Aveiro, no troço entre o Olho d' Água e o Canal das Pirâmides.
Daqui se saúda o promotor e todos os demais políticos envolvidos, que agora decidiram promover as soluções de bom-senso para o caso, que há muito se impunham.

Mas afinal do que é que se trata: qual é o caso? O caso – ou a coisa – já aqui – em 15 de Setembro de 2005, sob o título "Disparates" –, se abordava como segue.
(...) "Associado à expansão do Porto (de Aveiro) e à requalificação e valorização da Rede Ferroviária Nacional, "surgiu" (!) a necessidade de até ele levar um ramal que permitisse diminuir o (...) trânsito rodoviário (no IP5) – que é muito caro, inseguro e poluente. Pensou-se em estabelecer (o dito ramal) na contiguidade do IP5, só que, entretanto, já aí tinha sido enterrada uma conduta de Esgotos da SIMRIA, o que implicava que tal "contiguidade" se fizesse 20 metros mais para poente, sobre (...) Marinhas desactivadas.
Foi o fim da macacada. (...) os "Ambientalistas" (...) sacam "...da ideia do "Viaduto Milagreiro", não sei se para salvar a "serradela" e a "cama de nidificação das arvéolas", ou se para inviabilizar a obra. O viaduto vai custar (*1) (...) cerca de 15 milhões de euros. Tal acréscimo equivale a 40 000 salários mínimos nacionais, coisa com a qual parece que pouco nos incomodamos."
[veja a Crónica completa, também, neste Blog]

2)
Imagino que – com tal hipótese de alteração no horizonte –, já alguém deverá estar a preparar uma "manif"... pela defesa dos direitos adquiridos das ditas (serradela e arvéolas) à cama e progressão automática... na vida e no resto, claro.
Só que desta, minhas caras, nem os "ultra-ambientalistas" vos salvam: foram invocadas os "graves impactos visuais" e estéticos da solução anterior, coisa que, tal como todos sobejamente sabemos, mexe muito mais connosco do que o desbaratar d'alguns milhões.

Assim sendo – neste novo quadro, mais belo porque mais edílico e mais etéreo porque mais azul, celeste –, vogaremos, rumo ao futuro – livres e crentes na salvação da estética... que nos alimenta.

3)
A sério – mesmo a sério –, penso que é óptima a proposta e também a oportunidade: a de nos unirmos em torno de alguma coisa que vale a pena. Parabéns.
Mas p.f. que ninguém ponha essa coisa do "custo das coisas" para traz das costas: se não é assim que ninguém faz lá em casa, porque é que há-de ser assim que fazem quando se trata de gerir o dinheiro que (também) é dos outros?
Há mais de vinte anos em Oxford, os Professores que tive – meus caros –, não me deixavam entregar, fosse o projecto que fosse, antes de eu lhes dizer "quanto custaria (fazer e manter) a coisa"; "onde iria buscar o dinheiro para isso" e o que é que os "pagantes e destinatários" pensavam acerca de... tudo".
Talvez me tenham "viciado", é certo, mas o facto é que, vinte anos depois, o "modo como somos" me faz continuar a inveja-los: é pena.


(Crónica publicada no JN Norte, em 30MAI07)

1 comentário:

Anónimo disse...

Parabéns pela clarividência e obrigado por nos abrir os olhos.
JFreitas