sexta-feira, 13 de abril de 2007

a Senhora da Alegria; que tristeza!

"Cruzeiro e Capela da Senhora da Alegria"; Património do Sec. XVI
Hoje um enorme Bolo de Noiva"


da presunção e alheamento resultou...um "enorme bolo de noiva": haja dó


O Cruzeiro da Senhora da Alegria, junto às Barrocas em Aveiro, é uma peça de arquitectura urbana notável. A Capela (ao qual é fronteiro) era modesta, branca e silenciosa. A envolvente pouco perturbava o assim ser e estar deste Conjunto na cidade. O Conjunto era, para uns, um "referente urbano" importante do "Caminho do Mar"; para outros era o bonito que valia a pena pintar.

Nada disto assim é, agora; quase tudo piorou, de facto. Como recorrentemente acontece, da ignorância, presunção, alheamento e comodismo resultou a perda dum Património que, neste caso, remontava ao século XVI. É recuperável? Talvez, mas não vai ser fácil; senão vejamos.

Para o recuperar era preciso que o Património não fosse tido como uma q.q. treta velha, que não nos serve p'ra nada. Era preciso, depois, que os esclarecidos não vissem nos trabalhos associados ao Património, nem uma oportunidade de se exibirem (a si e às suas habilidades), nem coisa que possa ser feita por decreto, fora d'horas, como um q.q. gancho cívico de sapiência dispensável. Era preciso, finalmente, que todos nos preocupássemos com tais coisas e fossemos exigentes em relação aos respectivos resultados.
Assim postas as coisas, julgo que se percebe não só o meu temor, como também a minha convicção de que tal recuperação só com outros actores se poderá fazer: senão vejamos.

Quando os Planos chegaram ao sítio, não só não chegaram por causa do Património aí existente, como também não o tomaram como estruturante do que quer que fosse. Chegaram ao sítio para ligar a nova rede viária da Urbanização (Sá-Barrocas) com a existente, a nordeste. Por isso é que o Conjunto em causa agora nos surge encarrapitado num montículo rodeado de estradas, semáforos e automóveis, muito distante do "caminho", da "cena", do "lugar" – e do seu "espírito"
–, bem como, das pessoas e dos trajectos que elas hoje fazem: a Senhora da Alegria virou o "remanescente" de um processo que haveria de a ter como "determinante".
Os decisores, chocados (apenas?!) com a "agressividade" da base nua do "montículo d'Alegria" (assim criado) convocam... "artistas" para a alindar. Confundidos – ou talvez não – estes têm a sua "oportunidade de glória": retomam o cerâmico e "envergonham" quem o usou sobre o Cruzeiro; berram com a cor e com o desenho; gesticulam com o movimento da composição e... comprazem-se: transformaram o conjunto num "enorme bolo de noiva"!

Rematando tudo isto – outros e mais a Câmara – sob o olhar (por certo) atento da novel Comissão do Património, dão seguimento ao "processo"; coisas do "sistema"...dirão. No interior instalam-se "novos Quartos de Banho"; no exterior um "novel Material cerâmico"... E o certo é que – não sendo isso bom, nem, por certo, projecto d'arquitecto –, recebe "benção Presidencial, na inaugural", por certo sustentado no, "retro beneplácito Comissional"... É o disparate em todo o seu esplendor!


(Crónica publicada no JN Norte, em 21MAR07)

3 comentários:

joao madail veiga disse...

Bem vindo à blogosfera. Já lia as suas crónicas no JN, e agora, como antigo Bizinho, vou linká-lo ao meu Ventosga.

Raquel Sabino Pereira disse...

SEJA BEM VINDO À BLOGOSFERA!!!!

O A di or disse...

Seja bem vindo à blogosfera!

Lia algumas das suas belas crónicas no JN. Agora, se falhar o jornal, já sei onde poderei vir.

PS: Acho que no Cruzeiro, ainda falta a estátua dos Noivos! Quem sabe não apareça em próximas intervenções! |o|