sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

a "Cidade Judiciária"


tenham tino e não nos... desertifiquem ainda mais, por favor


1)
Já houve um tempo em que se pensava que era bom que, nas cidades, houvesse uma separação de actividades: habitação, comércio, serviços e indústria, p.e., deveriam localiza-se em zonas próprios e tais zonas deveriam ser separadas umas das outras; chamava-se a isso "zonamento".

Entretanto, desde há muito que se sabe que isso é causa de muitos e enormes problemas.

Ora, apesar de assim ser, o facto é que a Câmara de Aveiro quer agora promover algo dessa natureza na envolvente da Praça Marquês de Pombal, aí viabilizando aquilo a que pomposamente chama: "a Cidade Judiciária".

Se assim vier a ser, meus caros, é muito mau. É mau, porque isso é uma inegável prova de ignorância (*1) e pior ainda, porque é um péssimo serviço prestado à cidade.


2)
A Praça Marquês de Pombal é um dos pouquíssimos espaços públicos deste tipo, que temos nesta cidade. Para além dessa, apenas a Praça da República (mais pequena) é um "espaço público de inter-acção social e estadia". Diga-se, desde já, que – infelizmente -, fruto de desmandos anteriores, uma e outra são "praças" que foram perdendo essa característica, virtualidade e desempenho na cidade.

Na Praça da República e em resultado disso – do "ambiente de vivência familiar urbana" num "espaço central nobre" –, sobra cada vez menos "vivência" e cada vez mais "nobreza", o que não é bom para ninguém, nem mesmo para os "nobres" (que já poucos há, felizmente).

Na Praça Marquês de Pombal – depois de "interditada", "esventrada" e "abstractizada" foi, anos depois, devolvida à cidade como "cobertura de um parque de estacionamento automóvel" (pouco utilizado) –, por lá se mantendo, a poente, a pouca actividade e o (pequeno) poder do Governo Civil e dalgumas outras "repartições".

Ao Tribunal há anos que vão (quase) sempre os mesmos (são poucos, mas nem isso adianta o andamento dos processos: é por causa do "estado da nossa justiça", diz-se (?)).
Do mesmo lado, mais para norte, a Magestic resiste, bem como algumas (pequenas) lojas da Rua Direita que por aí passa (cada vez menos, uma vez que lhe falta, cada vez mais, uma qualquer razão de ser, a nascente).
Entretanto, a Farmácia Moderna floresce – mas apenas de dia –, enquanto a Casa de Santa Zita definha: – Faltam-lhe as miúdas giras, Pá!" diz peremptório o Tó Seco.

Do lado nascente, os Correios, mesmo renovados deixaram de ser... os "centrais".
Mais adiante, o Quartel dos Bombeiros, o Convento, a Igreja e o "Buraco" e é neste – no "vazio" entre a Igreja e a Casa (hoje) da SimRia – que se pretende construir mais um Tribunal, por aí ficando a tal "Cidade Judiciária".


3)
Já alguém atentou no "deserto nocturno" que isto é na Cidade; já alguém identificou qual a percentagem de "serviços" ai existentes e ponderou sobre os respectivos efeitos na "qualidade da vida urbana", não só nestes espaços públicos, mas também nos da respectiva envolvente.

Por outro lado, digam-me lá, o que é que ganha a Cidade com esta afectação, a esta tipologia de ocupação e de serviços; digam-me, também, o que é que ganha a "Justiça" – quer em termos de eficiência, quer em termos da qualidade do serviço –, pelo facto de ter Tribunais próximos uns dos outros. É que eu acho que já não se carregam processos às costas, sendo que, mesmo há anos, já o Pinto da Costa o não fazia: fazia versos, que, esses sim, podiam ser feitos em q.q. lado, até mesmo numa secretaria judicial.

Tenham tino e não nos... desertifiquem ainda mais, por favor. Eu, por mim, de bom grado oferecia este (novo) Tribunal ao Ruas, ao Menezes e aos Outros que a eles querem "amarrar, nos confins, as gentes do interior (dito) abandonado"...




(*1), coisa que é, creiam, desagradável de reconhecer e de referir: diz respeito a uma entidade necessária à nossa vida colectiva e que, ainda por cima, integra algumas pessoas e colegas dignos de muitos (outros) apreços

(Crónica publicada no JN Norte, em 20FEV08)

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