tenham tino e não nos... desertifiquem ainda mais, por favor
1)
Já houve um tempo em que se pensava que era bom que, nas cidades, houvesse uma separação de actividades: habitação, comércio, serviços e indústria, p.e., deveriam localiza-se em zonas próprios e tais zonas deveriam ser separadas umas das outras; chamava-se a isso "zonamento".
Entretanto, desde há muito que se sabe que isso é causa de muitos e enormes problemas.
Ora, apesar de assim ser, o facto é que a Câmara de Aveiro quer agora promover algo dessa natureza na envolvente da Praça Marquês de Pombal, aí viabilizando aquilo a que pomposamente chama: "a Cidade Judiciária".
Se assim vier a ser, meus caros, é muito mau. É mau, porque isso é uma inegável prova de ignorância (*1) e pior ainda, porque é um péssimo serviço prestado à cidade.
2)
A Praça Marquês de Pombal é um dos pouquíssimos espaços públicos deste tipo, que temos nesta cidade. Para além dessa, apenas a Praça da República (mais pequena) é um "espaço público de inter-acção social e estadia". Diga-se, desde já, que – infelizmente -, fruto de desmandos anteriores, uma e outra são "praças" que foram perdendo essa característica, virtualidade e desempenho na cidade.
Na Praça da República e em resultado disso – do "ambiente de vivência familiar urbana" num "espaço central nobre" –, sobra cada vez menos "vivência" e cada vez mais "nobreza", o que não é bom para ninguém, nem mesmo para os "nobres" (que já poucos há, felizmente).
Na Praça Marquês de Pombal – depois de "interditada", "esventrada" e "abstractizada" foi, anos depois, devolvida à cidade como "cobertura de um parque de estacionamento automóvel" (pouco utilizado) –, por lá se mantendo, a poente, a pouca actividade e o (pequeno) poder do Governo Civil e dalgumas outras "repartições".
Ao Tribunal há anos que vão (quase) sempre os mesmos (são poucos, mas nem isso adianta o andamento dos processos: é por causa do "estado da nossa justiça", diz-se (?)).
Do mesmo lado, mais para norte, a Magestic resiste, bem como algumas (pequenas) lojas da Rua Direita que por aí passa (cada vez menos, uma vez que lhe falta, cada vez mais, uma qualquer razão de ser, a nascente).
Entretanto, a Farmácia Moderna floresce – mas apenas de dia –, enquanto a Casa de Santa Zita definha: – Faltam-lhe as miúdas giras, Pá!" diz peremptório o Tó Seco.
Do lado nascente, os Correios, mesmo renovados deixaram de ser... os "centrais".
Mais adiante, o Quartel dos Bombeiros, o Convento, a Igreja e o "Buraco" e é neste – no "vazio" entre a Igreja e a Casa (hoje) da SimRia – que se pretende construir mais um Tribunal, por aí ficando a tal "Cidade Judiciária".
3)
Já alguém atentou no "deserto nocturno" que isto é na Cidade; já alguém identificou qual a percentagem de "serviços" ai existentes e ponderou sobre os respectivos efeitos na "qualidade da vida urbana", não só nestes espaços públicos, mas também nos da respectiva envolvente.
Por outro lado, digam-me lá, o que é que ganha a Cidade com esta afectação, a esta tipologia de ocupação e de serviços; digam-me, também, o que é que ganha a "Justiça" – quer em termos de eficiência, quer em termos da qualidade do serviço –, pelo facto de ter Tribunais próximos uns dos outros. É que eu acho que já não se carregam processos às costas, sendo que, mesmo há anos, já o Pinto da Costa o não fazia: fazia versos, que, esses sim, podiam ser feitos em q.q. lado, até mesmo numa secretaria judicial.
Tenham tino e não nos... desertifiquem ainda mais, por favor. Eu, por mim, de bom grado oferecia este (novo) Tribunal ao Ruas, ao Menezes e aos Outros que a eles querem "amarrar, nos confins, as gentes do interior (dito) abandonado"...
(*1), coisa que é, creiam, desagradável de reconhecer e de referir: diz respeito a uma entidade necessária à nossa vida colectiva e que, ainda por cima, integra algumas pessoas e colegas dignos de muitos (outros) apreços
(Crónica publicada no JN Norte, em 20FEV08)
1)
Já houve um tempo em que se pensava que era bom que, nas cidades, houvesse uma separação de actividades: habitação, comércio, serviços e indústria, p.e., deveriam localiza-se em zonas próprios e tais zonas deveriam ser separadas umas das outras; chamava-se a isso "zonamento".
Entretanto, desde há muito que se sabe que isso é causa de muitos e enormes problemas.
Ora, apesar de assim ser, o facto é que a Câmara de Aveiro quer agora promover algo dessa natureza na envolvente da Praça Marquês de Pombal, aí viabilizando aquilo a que pomposamente chama: "a Cidade Judiciária".
Se assim vier a ser, meus caros, é muito mau. É mau, porque isso é uma inegável prova de ignorância (*1) e pior ainda, porque é um péssimo serviço prestado à cidade.
2)
A Praça Marquês de Pombal é um dos pouquíssimos espaços públicos deste tipo, que temos nesta cidade. Para além dessa, apenas a Praça da República (mais pequena) é um "espaço público de inter-acção social e estadia". Diga-se, desde já, que – infelizmente -, fruto de desmandos anteriores, uma e outra são "praças" que foram perdendo essa característica, virtualidade e desempenho na cidade.
Na Praça da República e em resultado disso – do "ambiente de vivência familiar urbana" num "espaço central nobre" –, sobra cada vez menos "vivência" e cada vez mais "nobreza", o que não é bom para ninguém, nem mesmo para os "nobres" (que já poucos há, felizmente).
Na Praça Marquês de Pombal – depois de "interditada", "esventrada" e "abstractizada" foi, anos depois, devolvida à cidade como "cobertura de um parque de estacionamento automóvel" (pouco utilizado) –, por lá se mantendo, a poente, a pouca actividade e o (pequeno) poder do Governo Civil e dalgumas outras "repartições".
Ao Tribunal há anos que vão (quase) sempre os mesmos (são poucos, mas nem isso adianta o andamento dos processos: é por causa do "estado da nossa justiça", diz-se (?)).
Do mesmo lado, mais para norte, a Magestic resiste, bem como algumas (pequenas) lojas da Rua Direita que por aí passa (cada vez menos, uma vez que lhe falta, cada vez mais, uma qualquer razão de ser, a nascente).
Entretanto, a Farmácia Moderna floresce – mas apenas de dia –, enquanto a Casa de Santa Zita definha: – Faltam-lhe as miúdas giras, Pá!" diz peremptório o Tó Seco.
Do lado nascente, os Correios, mesmo renovados deixaram de ser... os "centrais".
Mais adiante, o Quartel dos Bombeiros, o Convento, a Igreja e o "Buraco" e é neste – no "vazio" entre a Igreja e a Casa (hoje) da SimRia – que se pretende construir mais um Tribunal, por aí ficando a tal "Cidade Judiciária".
3)
Já alguém atentou no "deserto nocturno" que isto é na Cidade; já alguém identificou qual a percentagem de "serviços" ai existentes e ponderou sobre os respectivos efeitos na "qualidade da vida urbana", não só nestes espaços públicos, mas também nos da respectiva envolvente.
Por outro lado, digam-me lá, o que é que ganha a Cidade com esta afectação, a esta tipologia de ocupação e de serviços; digam-me, também, o que é que ganha a "Justiça" – quer em termos de eficiência, quer em termos da qualidade do serviço –, pelo facto de ter Tribunais próximos uns dos outros. É que eu acho que já não se carregam processos às costas, sendo que, mesmo há anos, já o Pinto da Costa o não fazia: fazia versos, que, esses sim, podiam ser feitos em q.q. lado, até mesmo numa secretaria judicial.
Tenham tino e não nos... desertifiquem ainda mais, por favor. Eu, por mim, de bom grado oferecia este (novo) Tribunal ao Ruas, ao Menezes e aos Outros que a eles querem "amarrar, nos confins, as gentes do interior (dito) abandonado"...
(*1), coisa que é, creiam, desagradável de reconhecer e de referir: diz respeito a uma entidade necessária à nossa vida colectiva e que, ainda por cima, integra algumas pessoas e colegas dignos de muitos (outros) apreços
(Crónica publicada no JN Norte, em 20FEV08)
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